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quarta-feira, 6 de março de 2019

Artigo_ Reflexos do rápido avanço tecnológico para a segurança e defesa nacionais

 

Algumas tecnologias estão transformando profundamente a vida em sociedade. A Inteligência Artificial (IA), por exemplo, está por trás de diversos projetos envolvendo carros autonavegáveis, comandos efetuados por voz, reconhecimentos faciais e filtros de conteúdo em redes sociais. No campo dos sistemas aéreos não tripulados (Unmanned Aerial Systems – UAS), vislumbram-se múltiplas aplicações comerciais, como meios de entregas e até de transporte público, na forma de taxi aéreos.


Não por acaso, estima-se que a indústria de drones comerciais nos Estados Unidos tenha saltado de US$40 milhões, em 2012, para aproximadamente US$1 bilhão, em 2017 – e, em 2026, esse mesmo segmento pode representar um impacto na faixa de US$31-46 bilhões no Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano. Paralelamente, a área de cibersegurança permeia vários outros campos, na medida em que equipamentos e “sistemas de sistemas” cada vez mais complexos também se tornaram presa fácil para ataques cibernéticos. Em 2023, o mercado de cibersegurança pode alcançar um montante de US$248 bilhões. 
Evidentemente essas transformações afetam diretamente as mais modernas Forças Armadas. Na Estratégia Nacional de Defesa dos Estados Unidos de 2018, por exemplo, ressalta-se a importância dos desdobramentos das novas tecnologias comerciais para a sociedade e para o fenômeno da guerra, especialmente tendo em vista a perspectiva de que muitos desenvolvimentos tecnológicos virão dos setores comerciais de ponta. Já a China tem investido em IA, por exemplo, como parte de um conjunto mais amplo de esforços para o desenvolvimento de uma série de veículos autônomos (aéreos, terrestres e navais), bem como de jogos de guerra e simuladores. Entre os planos de Beijing para alcançar o objetivo de ser o líder mundial em IA está a construção de um polo de pesquisa, com o custo estimado em US$2,12 bilhões, abarcando até 400 empresas e parcerias com universidades.
Outros países também estão enveredando esforços nesses novos campos com enfoque em segurança e defesa nacionais. Os planos da Índia incluem o estabelecimento de uma Agência de Defesa Cibernética com mais de 1000 integrantes distribuídos em diferentes posições no Exército, na Marinha e na Força Aérea. A Rússia tem explorado o uso de IA em, por exemplo, mísseis de cruzeiro, drones armados, guerra eletrônica e inteligência de imagens. Apenas na área de IA, estima-se que Moscou tem investido anualmente cerca de US$ 12,5 milhões. Já a Alemanha almeja criar sua própria versão da norte-americana Defense Advanced Research Projects Agency (DARPA).
O impacto dessa realidade para as mais modernas Forças Armadas é evidente, pois afeta diversos elementos de doutrina, organizacionais, de adestramento, de material, de educação, de pessoal e de infraestrutura. Diante das perspectivas de proliferação de mísseis hipersônicos, robôs armados, lasers, canhões eletromagnéticos e dos avanços da computação quântica, vários países têm buscado se adaptar constantemente a essas inovações, priorizando recursos em equipamentos e otimizando estruturas de pessoal e custeio.
No Reino Unido, por exemplo, um dos poucos membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) que conseguem cumprir as metas de alocação de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em defesa e 20% desse montante em Equipamentos, observa-se uma série de dificuldades políticas na definição de prioridades e do tamanho do efetivo de suas Forças Armadas. Ademais, tanto nas reformas dos aparatos de defesa iniciadas pela Rússia, em 2008, e pela China, em 2015, por exemplo, houve profundas mudanças organizacionais com foco conjunto e redução de efetivos, além de estabelecimento de planos de equipamentos de médio e longo prazo.
Seguir essa vasta onda de transformações é um enorme desafio para qualquer país. No Brasil, o processo de atualização, para 2020, dos documentos Política Nacional de Defesa (PND), Estratégia Nacional de Defesa (END) e Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN) apresenta-se como uma valiosa oportunidade para enfrentar tais questões, sobretudo quando considerados os históricos tanto do orçamento de defesa brasileiro quanto dos investimentos nacionais em Ciência e Tecnologia. Nesse sentido, o que está claro é que o acelerado avanço tecnológico vai continuar – independentemente de o Brasil conseguir ou não acompanhá-lo.

sábado, 2 de março de 2019

Inteligência artificial auxiliará no atendimento ao público junto às principais mídias sociais do Exército Brasileiro

Agência Verde Oliva
Brasília (DF) – Dentre os mais de 90 mil jovens que ingressarão nesta sexta-feira, 1º de março, para prestar o serviço militar obrigatório, há um que será treinado para cumprir qualquer missão, de forma incansável. O nome de guerra desse novo integrante, que trabalhará 24 horas todos os dias, será “Max”. Não se trata de um ser humano, mas de uma inteligência artificial (IA) que terá uma presença ativa nas principais mídias sociais do Exército Brasileiro. O nome "Max" tem um duplo significado, pois a sigla significa Módulo Auxiliar de Relações Públicas e é uma citação direta ao herói brasileiro da Segunda Guerra Mundial, Sargento Max Wolf Filho.

O Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx) já havia realizado algumas iniciativas para a construção de soluções automatizadas de respostas. Em 2016, lançou um sistema integrado ao WhatsApp que empregava, para interagir, o método conhecido como Unidade de Respostas Automatizadas (URA). Uma central URA nada mais é do que um rol de opções em que o usuário é obrigado a escolher uma delas. Nesse tipo de configuração, não há simulação de conversação e, mesmo assim, cerca de 800 mensagens eram respondidas por mês. Por limitações da técnica e da forma como foi implementado no WhatsApp, o serviço se tornou inviável e foi desativado em junho de 2018.
Ainda nesse ano de 2018, o CCOMSEx iniciou os estudos de plataformas de IA, como o Watson, da IBM; o QNA Maker/Azure, da Microsoft; e o DialogFlow, do Google. Escolhido o melhor serviço, iniciou-se o aprofundamento dos estudos e os primeiros testes com o chatbot. Para isso foram analisadas mais de 20 mil conversas ocorridas nas mídias sociais com o intuito de compreender como o público realizava as interações e para identificar os assuntos mais relevantes.
O Max é uma categoria especial de chatbot que utiliza elementos de Machine Learning (aprendizado de máquina) e Processamento de Linguagem Natural para dar a resposta mais adequada aos questionamentos recebidos.
Inicialmente, o Max operará na plataforma Messenger do Facebook e responderá a uma ampla gama de questionamentos que vão desde as diversas formas de ingresso no Exército até dicas de como conseguir uma namorada.
É muito provável que o Max seja o primeiro chatbot do mundo a incorporar oficialmente a um exército, tendo, inclusive, um plano de carreira. Isso significa que a partir do momento que ele ampliar suas conexões e apresentar um resultado de interação mais assertivo, será promovido às graduações superiores. Essas promoções também vão alterar o avatar escolhido para representar o Max. Como exemplo, antes de sua ativação, o Max usará calça jeans e camiseta branca, que é o mesmo traje exigido dos conscritos.
Na sexta-feira, dia da incorporação de todos os novos recrutas, o Max já estará de camuflado e gorro, pois a boina só será recebida após o primeiro acampamento.
Outro ponto de destaque será a forma de interagir com o usuário. O Max está sendo programado para ter um senso de humor e possuir uma variedade de respostas para perguntas similares.
A presença de IA para intermediar a comunicação com o público tornou-se uma necessidade para as instituições e empresas que querem atender a todas as demandas recebidas com rapidez e disponibilidade. O Exército hoje recebe cerca de 10 mil mensagens privadas por mês, que desconhecem horários, férias e feriados. Além disso, a cultura digital encurtou o tempo, tornando as pessoas mais imediatistas e impacientes. Em virtude disso, é preciso responder, quase que instantaneamente, às pessoas que entram em contato com o Exército. Hoje, pelo volume de mensagens recebidas, o Exército Brasileiro precisaria de um pelotão, trabalhando em escalas, para atender a essa demanda.
O principal papel do Max será intermediar a conversação entre humanos, pois, respondendo às questões simples, permitirá que a equipe de relações públicas do CCOMSEx se dedique às mais complexas e à busca por novas formas de interação.


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