Por Major Anderson Xavier Neves
A atual era do conhecimento impõe novos desafios a serem superados no tocante às atividades militares. Hoje em dia, busca-se o emprego de materiais de emprego militar (MEM) adaptados às novas exigências do combate moderno e customizados ao ambiente aos quais serão utilizados.
Nesse contexto, o Comando Militar da Amazônia (CMA) desenvolve programas estratégicos que visam ampliar a sua capacidade de atuação na faixa de fronteira. Sua área de responsabilidade compreende quatro estados da Federação – Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima –, que abrangem cerca de 43% da Amazônia Legal e 25% do território nacional. Essa imensidão geográfica é a Amazônia Ocidental, cobiçada por sua riqueza mineral e natural, caracterizada por uma rede hidrográfica totalmente heterogênea e escassa rede de estradas. Essa situação coloca o CMA sob um enfoque prioritário para Exército Brasileiro, com o intuito de garantir a inviolabilidade dessa área tão nobre à soberania nacional.
Tendo em vista as circunstâncias acima abordadas, O CMA desenvolve o Programa Embarcações – Nova Frota Fluvial da Amazônia Ocidental. Essa iniciativa visa, em um sentido abrangente, implantar o conceito de frota fluvial, controlando todo o ciclo de vida das embarcações logísticas e operacionais utilizadas pelas organizações militares (OM) subordinadas ao CMA. Destaca-se que o programa, além de trazer benefícios diretos à Força Terrestre, também promove a inovação tecnológica e fomenta a indústria nacional e a Base Industrial de Defesa (BID), impulsionando o portfólio de Produtos de Defesa (PRODE).
Cabe ressaltar que a renovação da frota fluvial e a gestão das embarcações da Área de Responsabilidade Logística da Amazônia Ocidental (ARPLAO) atende ao estabelecido na Portaria N° 1968 do Comandante do Exército, de 3 de dezembro de 2019, que aprova o Plano Estratégico do Exército (PEEx), ciclo 2020-2023. Figura como Objetivo Estratégico do Exército (OEE) a “intenção de aperfeiçoar o sistema logístico militar terrestre, tendo o programa embarcações, em sua raiz estrutural, um marco temporal de 4 a 5 anos de desenvolvimento, visando consolidar suas metas e parâmetros de execução”.
A 12ª Região Militar (12ª RM), Grande Comando Logístico e Administrativo subordinado ao CMA, recebeu a incumbência de gerenciar aquela empreitada. Dentre suas missões, a 12ª RM coordena o emprego de seus meios para garantir o fluxo logístico necessário em apoio às tarefas e missões na ARPLAO, como, por exemplo, viabilizar a chegada dos diversos suprimentos vindos das regiões meridionais do Brasil ao seu destino. Assim, a nova frota fluvial projeta uma fase especial para a logística militar regional.
No escopo do programa, as embarcações logísticas compreendem as balsas, os empurradores e os ferryboats. Essas propiciam a adequada capacidade de transporte de pessoal e material necessário para suprir as diversas OM na faixa de fronteira, mesmo aquelas mais destacadas como a singular “Cabeça do Cachorro”, geograficamente localizada na região do Alto Rio Negro.
Além disso, especial atenção deve ser direcionada às embarcações operacionais. São lanchas militares com robustas capacidades e alto poder de dissuasão, contempladas com meios optrônicos modernos para detecção e monitoramento, motorização e proteção balística específica, assim como com outras configurações customizadas para as características dos rios em que serão empregadas. Essas embarcações são dedicadas ao combate aos ilícitos transfronteiriços e à defesa externa, garantindo o objetivo nacional permanente da soberania previsto em nossa Carta Magna.
Visando atender ao necessário controle e à gestão dos meios fluviais, foi implantada, na 12ª RM, a Seção de Gestão e Planejamento de Frota (SGPF). Essa estrutura cumpre papel fundamental ao regular procedimentos de aquisição, construção, redistribuição, manutenção, controle, renovação e desfazimento de embarcações e promover a desejável sustentabilidade logística e otimização no emprego de recursos financeiros e de pessoal. Cabe destacar que a SGPF inova ao colaborar na capacitação de recursos humanos, difundindo a mentalidade de manutenção e contribuindo para o correto uso e emprego das embarcações.
Alinhados com a nova frota fluvial, a 12ª RM desenvolve outros projetos que potencializarão a capacidade de atuação das tropas na área da Amazônia Ocidental. Esses empreendimentos compreendem a melhoria da estrutura de depósitos multiclasses, o incremento da estrutura portuária ao longo das calhas dos rios e o implemento da mecanização, iniciando uma nova fase na logística militar amazônica. Dessa forma, as OM logísticas e operacionais subordinadas ao CMA serão beneficiadas, atingindo um novo patamar no transporte e fluxo de suprimentos e mitigando óbices advindos das grandes distâncias a serem percorridas até os mais distantes Pelotões Especiais de Fronteira (PEF).
Quanto aos resultados do Programa Embarcações, espera-se que a capacidade de patrulhamento da fronteira seja ampliada, contribuindo para a intensificação do controle das aquavias que penetram no País. Além disso, almeja-se o incremento da prontidão logística, com a frota fluvial mapeada e com uma maior possibilidade de acompanhamento do ciclo de vida do MEM, potencializando a capacidade dissuasória das tropas do CMA.
Na medida em que a nova frota fluvial contribui para a manutenção da soberania e da preservação da Amazônia, toda a sociedade brasileira é impactada positivamente pelos resultados, em especial as populações residentes em regiões como São Gabriel da Cachoeira, Tabatinga, Tefé, entre outras. Ainda, de forma indireta, todas as agências governamentais que dependem do trabalho integrado com o Exército Brasileiro colherão os frutos dessa iniciativa, já que podem usufruir da capilaridade da ampla estrutura do Comando Militar da Amazônia, permanentemente desdobrado pela imensa Amazônia Ocidental.
Por fim, ciente de suas atribuições, o CMA condiciona-se, diuturnamente, a superar as adversidades existentes, capacitando seus recursos humanos e modernizando sua plêiade de materiais militares. Impulsionado pelo legado daqueles que garantiram nossa imensidão continental, o soldado do Exército Brasileiro presente na Amazônia Ocidental, filho da fusão de raças, marcha vibrante, fortalecendo a crença da sociedade brasileira na Força Terrestre e compreendendo as palavras proferidas pelo grande chefe militar, General de Exército Rodrigo Octávio Jordão Ramos, “árdua é a missão de desenvolver e defender a Amazônia. Muito mais difícil, porém, foi a de nossos antepassados de conquistá-la e mantê-la”. Tudo pela Amazônia. Selva!
SOBRE O AUTOR
O Major Anderson Xavier Neves é da Arma de Infantaria, Turma de 2002, da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Principais funções exercidas: Comandante de PEF (61º BIS); Instrutor CIGS (2005-2007); Instrutor do CIOpMth (2009-2011); Comandante Cia Esp Fron Clevelândia do Norte (CFAP/34ºBIS – 2013); Instrutor da Escola de Selva do Exército Peruano (2014); Instrutor da SIEsp AMAN (2015-2016); Cmt 15ª Cia Inf Mtz (Guaíra / PR) em 2018 e 2019; e Oficial de Planejamento de Operações Logísticas da 12ª RM (2021). Cursos realizados: Operações na Selva – Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS) em 2003; Básico e Avançado de Montanha – Centro de Instrução de Operações em Montanha (CIOpMth) em 2008; Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO) em 2012; Escola de Comando e Estado Maior do Exército - (ECEME) em 2019 e 2020; e Avançado de Inteligência em 2021.