Por Coronel Paulo Roberto da Silva Gomes Filho
O C2-50 é uma referência para os cavalarianos. Desde a entrada na Arma, na Academia Militar das Agulhas Negras, os cadetes ouvem falar do velho manual – já não mais em vigor – que tratava da Instrução Tática Individual e das Unidades Elementares da Cavalaria.
O C2-50 é uma referência para os cavalarianos. Desde a entrada na Arma, na Academia Militar das Agulhas Negras, os cadetes ouvem falar do velho manual – já não mais em vigor – que tratava da Instrução Tática Individual e das Unidades Elementares da Cavalaria.
O exemplar que tenho aqui comigo, uma
edição de 1959, é do meu pai, Aspirante da Turma de 1965, formado na
Cavalaria Hipomóvel. Foi emprestado com a recomendação expressa de que
eu o devolva em perfeito estado. Era seu manual de cabeceira nos tempos
de Tenente, no 3º Regimento de Cavalaria, em São Luiz Gonzaga, RS.
A frase mais famosa do manual, repetida inúmeras vezes nas Unidades de Cavalaria, é a constante no parágrafo 18, que trata de “certas regras que o Soldado deve conhecer”. Lá se encontra, na letra “c”: “se não existirem mais oficiais ou graduados, o mais bravo assume o comando.”
A frase soa aos jovens cavalarianos como
o paradigma do espírito da Arma. O estímulo à audácia, o amor aos
lances perigosos, à bravura. E é exatamente isto que ela é. Mas não só
isto. A frase está inserida em um contexto em que conceitos de liderança
são apresentados aos leitores. A perenidade da admiração de sucessivas
gerações de militares aos ensinamentos do C2-50 está justamente na rara
felicidade com que seus autores tratam desses conceitos de liderança,
que permanecem atuais até os dias de hoje.
Abaixo, serão apresentados alguns trechos que exemplificam a incrível atualidade do manual.
“6. O primeiro objetivo que a si próprio deve impor um instrutor é o
desenvolvimento do
moral de seus cavaleiros.
... É a confiança do cavaleiro em suas forças, na sua coragem no
valor de suas armas na
justeza do seu tiro e no valor de seu chefe, que constituem o
alicerce de seu moral.”
Logo no 6º parágrafo do manual, fica
clara a importância da liderança. Atribui-se ao instrutor, que no caso
se confunde com o comandante das pequenas frações, a responsabilidade de
desenvolver o moral do soldado, o que só se conseguirá pela “confiança
no valor do seu chefe”.
“17. Em todos os postos da escala hierárquica, o chefe deve estar
compenetrado de que
a primeira e mais bela de suas missões é dar o exemplo.”
Vejamos o que “dar o exemplo” significa.
Como se sabe, a liderança é um processo de influência interpessoal do
líder sobre os liderados. Essa influência que o líder exerce se dá pelo
estabelecimento de vínculos afetivos entre os indivíduos, de modo que os
liderados passam a crer que o líder saberá conduzir os destinos do
grupo nas mais variadas situações.
Essa confiança só se estabelece quando
são identificados no líder três aspectos cruciais para a liderança. O
primeiro é a proficiência profissional, ou seja, o líder sabe o que
fazer. O segundo é o senso moral, que significa que é possível se
identificar na personalidade do líder os valores morais caros ao grupo
que lidera. O último aspecto são as atitudes adequadas, que evidenciam
que o líder efetivamente emprega seus conhecimentos e valores em ações
que conduzem o grupo ao objetivo perseguido pela Instituição a que
pertencem.
“Dar o exemplo” significa encarnar os
três aspectos citados. Significa “ser”, “saber” e “fazer”. Isto era
válido em 1959 e continua válido até hoje.
“18.a. a falta de ordens em nenhum caso justifica a inação.
b. a iniciativa consiste em atuar, na falta de ordens, segundo a vontade do chefe.”
Aqui está a se falar da iniciativa e do
conceito de “intenção do comandante”, ambos em vigor na doutrina atual.
Ou, para citar a moderna doutrina norte-americana, do Mission Command .
Os comandantes em todos os níveis, assim como seus subordinados, devem
atuar sempre no sentido de se fazer cumprir a intenção de seu
comandante. Assim, no caso de uma situação em que se encontre atuando
isolado, ou em que falhem os meios de comando e controle, deverá atuar
com iniciativa e por conta própria, sempre objetivando o cumprimento da
missão. Está se falando de planejamento centralizado e execução
descentralizada e se estimulando a iniciativa, outorgando aos
subordinados a liberdade de ação para se decidir a melhor forma de
cumprir a missão.
Muitos outros trechos do C2-50 poderiam
ter sido selecionados, mas creio que os destacados acima são suficientes
para mostrar o porquê da importância do velho manual. Que este texto
sirva de estímulo aos cavalarianos mais jovens. Folheiem o C2-50 ,
leiam com calma alguns trechos. Vocês estarão mergulhando nas origens
da Arma Ligeira, entenderão melhor a formação do espírito militar que
nos une e nos torna diferentes.
Mission Command
pode ser definido, em rápidas palavras, como um estilo de liderança
militar adotado pelo Exército dos EUA. Oriundo da antiga escola
Prussiana, o conceito prevê planejamento centralizado e execução
descentralizada. Atribui grande importância à compreensão da intenção
dos comandantes para que se possa conceder liberdade de ação aos
subordinados para que atuem conforme seus próprios planejamentos.
Disponível na Biblioteca Digital do Exército - http://bdex.eb.mil.br/jspui/handle/1/520?mode=full