Cel Swami de Holanda Fontes
Uma antiga parábola conhecida como “A
espada de Dâmocles” pode ser usada para fazermos uma reflexão sobre a
responsabilidade dos militares.
Antes de Cristo, na região que hoje é a
Itália, havia um cortesão chamado Dâmocles, que atuava como conselheiro
na corte de Dionísio – monarca de Siracusa. Dâmocles não poupava
palavras para enaltecer as qualidades, o poder, a autoridade e a sorte
de Dionísio.
Um dia, cansado de ouvir as bajulações
do seu conselheiro, Dionísio propôs que Dâmocles ocupasse seu lugar por
24 horas, o que foi prontamente aceito. Ao ocupar o trono e assumir o
que considerava benefícios do poder, Dâmocles percebeu que havia uma
espada sobre sua cabeça sustentada por uma ponta de fio de rabo de
cavalo. A outra ponta do fio estava amarrada ao seu corpo. Qualquer
movimento inesperado ou de fuga do cortesão romperia o fio, provocando
sua morte.
Nesse instante, Dâmocles compreendeu que
o monarca vivia sob “o fio da espada” todos os dias. O poder não estava
associado nem a confortos nem a regalias, mas a grandes
responsabilidades. Dionísio convivia constantemente com a morte, pois
sempre havia a possibilidade de ser sabotado, de cometer um erro ou de
alguém motivar uma guerra. Quando o cortesão compreendeu os deveres, as
obrigações e os riscos que seu rei enfrentava diariamente, passou a
respeitá-lo.
As últimas pesquisas de opinião indicam
que o Exército Brasileiro conta com mais de 80 % de confiança da
população. As pessoas reconhecem sua contribuição para a manutenção da
integridade territorial e sua importância para o desenvolvimento, a
soberania nacional e a defesa da Pátria.
Embora seja uma das instituições de
maior credibilidade perante a sociedade, ainda há considerável número de
pessoas que desconhece as missões do Exército Brasileiro e suas
características, especificidades e peculiaridades, típicas da profissão
militar; dessa forma, julgam que os militares possuem facilidades,
confortos e, até mesmo, regalias.
Assim sendo, sintamos um pouco o peso da espada!
Soldados participam de inúmeras
atividades em que são obrigados a operar isoladamente para atenderem
demandas dos compromissos internacionais, como as missões de paz e de
segurança, no Saara Ocidental, no Sudão, no Chipre, na República Centro
Africana, no Líbano, na Guiné-Bissau e na República Democrática do
Congo. Além do trabalho isolado, a maioria dessas missões impossibilitam
o acompanhamento dos familiares.
No caso do emprego de tropa, destaca-se a
recente Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti. Durante
13 anos, tropas nacionais foram empregadas para restabelecer a
segurança e a normalidade institucional daquele país. A presença
brasileira na ilha foi vital em dois momentos: em 2010, no terremoto que
causou a morte de mais de 200 mil pessoas, incluindo 18 militares do
Exército Brasileiro e, em 4 de outubro de 2016, durante o furacão
Matthew, que causou inundações e deixou milhares desabrigados. Nessas
duas situações, a ajuda dos nossos peacekeepers contribuiu para amenizar o sofrimento dos irmãos haitianos.
No âmbito nacional, há dezenas de
operações em andamento, diariamente, por toda a faixa de fronteira, a
fim de contribuir para a manutenção da soberania do Estado brasileiro
nas áreas lindeiras e de cooperar com as ações dos diversos órgãos de
segurança pública no combate aos ilícitos transfronteiriços e
ambientais.
Na Copa do Mundo e nos Jogos Olímpicos, o
emprego das Forças Armadas foi fundamental para que esses dois grandes
eventos tivessem êxito no aspecto segurança, repercutindo
internacionalmente na imagem positiva do País. Além disso, cabe destacar
a quantidade de medalhas olímpicas conquistadas por nossos atletas
militares.
Não se deve esquecer a Operação
Carro-Pipa que, há mais de uma década, distribui água no interior do
Nordeste. O Exército, por intermédio de dezenas de organizações
militares, garante que seja fornecida água tratada para mais de
2.000.000 de pessoas, em centenas de municípios.
Inúmeras operações de Garantia da Lei e
da Ordem têm sido estabelecidas regularmente em todo o território,
podendo ser destacada a de apoio à Intervenção Federal no Rio de
Janeiro.
Nas ações humanitárias, o trabalho
incessante de militares na Operação Acolhida, conduzida pela
Força-Tarefa Logística Humanitária, tem contribuído para melhorar as
condições de vida de imigrantes, em situação de vulnerabilidade, que
chegam a Roraima.
Na área do desenvolvimento e da
integração nacional, destaca-se o trabalho da engenharia militar no
projeto de transposição do Rio São Francisco, na recuperação de
estradas, na pavimentação de rodovias, na revitalização de
infraestruturas, na construção de aeroportos, na perfuração de poços
artesianos, dentre outros.
Não se pode deixar de mencionar as
constantes ações cívico-sociais em apoio às campanhas de vacinação e
atendimento médico-odontológico de populações carentes, assim como as
ações de garantia à votação e apuração em eleições, de combate a vetores
de doenças e de apoio à Defesa Civil em calamidades públicas –
distribuição de água e alimentos e o resgate de pessoas em enchentes e
desabamentos.
Muitas das atividades descritas são
vistas apenas regionalmente, nas áreas geográficas onde ocorrem, sendo
desconhecidas em âmbito nacional. Grande parte desses trabalhos é
anônimo e incansável, pois os empregos operacionais das tropas, em
muitas situações, acontecem em lugares inóspitos, longe dos grandes
centros.
No entanto, há algo em comum em quase
todas essas ações: o sacrifício e a dedicação exclusiva de pessoas que
entregam suas vidas por um ideal e que dão o seu melhor pelo País.
Operando longe de casa, trabalham sem se preocupar com as horas, os
feriados e se é dia ou noite.
Como têm vivência nacional, mudam-se
frequentemente a cada dois ou três anos, morando nas mais variadas
regiões do nosso imenso Brasil. Essa imposição da Carreira das Armas
limita a fixação da família, cônjuge e filhos, que sofre limitações
quanto à manutenção de laços profissionais e, principalmente, aos
estudos.
Apesar de não ter regalias, conforto e
os mesmos direitos trabalhistas do restante da população, o militar é
altamente cobrado, pois qualquer falha pode ser prejudicial à defesa,
segurança e tranquilidade nacional.
Agora que conhece um pouco mais sobre o
campo de atuação, as especificidades e as peculiaridades da profissão
militar, você se submeteria ao peso dessa “espada”?