Foto Defesa Civil do Amazonas |
Manaus/AM_ Dois fenômenos simultâneos podem agravar e até prolongar a seca na Amazônia. Além do El Niño, que aumenta a temperatura das águas superficiais do oceano na região do Pacífico Equatorial, o aquecimento do Atlântico Tropical Norte, logo acima da linha do Equador, inibe a formação de nuvens, reduzindo o volume de chuvas na Amazônia. Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que monitora os rios da bacia Amazônica, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que prevê redução das chuvas para a região Norte, e do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), que acompanha os impactos do El Niño no Brasil, apontam para a simultaneidade dos fenômenos. Todas as unidades são vinculadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
“O evento do Atlântico Tropical Norte está se somando ao El Niño. Dois eventos ao mesmo tempo são preocupantes. Tivemos isso entre 2009 e 2010, que foi a maior seca registrada na bacia do rio Negro nos últimos 120 anos”, explica o meteorologista Renato Senna, responsável pelo monitoramento da bacia amazônica no Inpa.
Os barcos que abastecem o comércio local já não chegam mais ao município de Benjamin Constant, na região do Alto Solimões, no Amazonas. Por ali, o rio Javari, afluente do rio Solimões, baixou tanto que as embarcações de carga não têm condições de navegabilidade. A solução é recorrer a embarcação de menor porte chamada “canoão” para levar alguns produtos, encarecendo o valor no mercado.
Benjamin Constant é um dos 13 municípios amazonenses que entraram em situação de emergência por causa da estiagem extrema deste ano na bacia amazônica. Outros 16 estão em estado de alerta.
Em Benjamin Constant, as autoridades municipais planejam, agora, dragar uma área do rio Solimões que liga a cidade até Tabatinga. Isso permitirá o deslocamento de embarcações de médio porte para levar mantimentos e passageiros.
“O município está enfrentando uma das maiores secas já vista. A cidade entrou em emergência no dia 3 de agosto e o governo reconheceu na sexta-feira passada”, disse Ricelly Dacio, secretário municipal da Defesa Civil de Benjamin Constant. Segundo Dacio, o frete das embarcações já encareceu, o que fez os comerciantes locais repassarem o aumento dos custos para o consumidor. “Os produtos do comércio estão 30% mais caros”, disse.
Queimadas
A especialista do Cemaden em secas na Amazônia, Liana Anderson, destaca que a atuação dos fenômenos simultâneos sobre a região também é motivo de preocupação com relação às queimadas. “Há uma extensão grande com risco de fogo pelas chuvas abaixo da média, aumento da temperatura, e agora temos um alerta de onda de calor. Tudo isso vai deixando toda a paisagem muito mais flamável”, analisa a especialista. “As áreas que foram desmatadas no ano passado em algum momento podem queimar”, complementa.
O assunto foi abordado na reunião sobre risco de impactos promovida pelo Cemaden periodicamente, apontando as áreas com maior probabilidade em municípios e em áreas protegidas. Segundo Liana, a projeção é motivo de mobilização de estruturas como defesa civil, brigadistas, batalhões de policiamento ambiental, corpo de bombeiros. “A questão é se estruturar para agir na nas áreas prioritárias”, afirma.