A Cerimônia está sendo organizada em diálogo com o Povo Tupinambá para garantir o direito sagrado dos indígenas em relação ao manto
A solene vestimenta expressa a conexão com o território e o protagonismo indígena em suas produções. Manto Tupinambá, exposto no Museu Nacional da Dinamarca (Foto: Niels Erik Jehrbo/Nationalmuseet) |
No dia 12 de Setembro, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), em conjunto com os Ministérios da Educação (MEC) e da Cultura (MinC), contando com a parceria do Ministério das Relações Exteriores (MRE), realiza na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, a cerimônia de celebração pelo retorno do Manto Sagrado Tupinambá ao Brasil, com a participação de lideranças do Povo Tupinambá. Sonia Guajajara e demais autoridades do governo federal, estadual e municipal, além de outros convidados, devem marcar presença.
Nos dias anteriores, o Povo Tupinambá irá realizar seus rituais sagrados de vigília, além de visita ao manto em uma sala da Biblioteca Central do Museu Nacional. Todo o evento está sendo organizado em diálogo permanente com o Povo Tupinambá para garantir o direito sagrado dos indígenas em relação ao artefato.
Após receber a carta de Rane Willerslev, diretor do Museu Nacional da Dinamarca, o líder Tupinambá Babau disse: “ Para nós, a doação do manto Tupinambá significa que um ancestral está retornando! É também uma esperança imortal que regressa: uma resposta concreta a quem acredita na força do seu povo e continua a lutar pela sua cultura, pelos seus segredos e pela sua religião. Continuamos a criar outras capas. Mas agora, através de uma generosa doação, nossa maior relíquia retornará ao Brasil! O pássaro que simboliza esse manto, o íbis, que não é mais encontrado em nossa região, nasce e fica cinza. Quando comem caranguejos, suas penas ficam vermelhas. É um sinal da transformação que está acontecendo em tudo, nas pessoas e na sua cultura. Muito obrigado aos Museus Nacionais do Brasil e da Dinamarca por nos permitirem ouvir novamente as palavras sagradas dos nossos antepassados. A capa está de volta!”
Retorno do Manto Tupinambá
O Assojaba Tupinambá (Manto Tupinambá) é uma vestimenta sagrada, utilizada em rituais e composta por penas de aves nativas.
A indumentária emplumada representa para o povo Tupinambá uma confluência entre a dimensão espiritual (os Encantados e os antepassados), o meio ambiente, a economia e a agroecologia e a transmissão de saberes.
Para além do notável significado histórico, o Manto também traz em si uma imensurável importância para o contexto presente, a partir de sua forte presença identitária que garante a permanência da cultura, memória e cosmologia do povo Tupinambá a cada geração. O Manto expressa o protagonismo indígena em suas produções, rituais e tradições.
Entenda o caso
o Nationalmuseet (Museu Nacional da Dinamarca) fez a devolução de um Manto Tupinambá no dia 11 de julho, que passará a integrar o acervo do Museu Nacional (Rio de Janeiro-RJ). Feito de penas vermelhas de guará, costuradas em uma base de fibra natural, o Manto é um dos mais bem conservados ao redor do continente europeu.
A devolução ao país contou com a articulação entre instituições do Brasil e da Dinamarca, incluindo o Ministério das Relações Exteriores (MRE), por meio da Embaixada do Brasil na Dinamarca, os museus dos dois países e lideranças do povo Tupinambá.
Entre os dias 1º e 4 de abril deste ano, o Ministério dos Povos Indígenas compareceu ao território Tupinambá, na Serra do Padeiro e em Olivença, para cumprir com o processo de escuta junto às lideranças e à comunidade indígena, conforme prega a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O objetivo foi consultá-los sobre a importância e a relação que possuem com o manto ancestral, que tem caráter sagrado, e para viabilizar o contato dos Tupinambá com a peça.
Por meio da Secretaria de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas (SEART) e do Departamento de Línguas e Memórias Indígenas (DELING), o MPI vem desenvolvendo recomendações e protocolos para que povos indígenas tenham acesso a bens e objetos de suas culturas que estão em museus nacionais ou localizados no exterior.
Atualmente, sabe-se da localização de onze mantos remanescentes, produzidos durante o período colonial brasileiro. Todos eles se encontram na Europa, em museus da Dinamarca, Suíça, Bélgica, França e Itália.