quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Manipulação das Massas. Você é manipulado? Manifeste-se!".

Cel Swami de Holanda Fontes
As ideias que o senhor ou a senhora advoga são suas? Os argumentos utilizados para defender seus pensamentos são seus? Escutou de terceiros? Ouviu dizer? Você se identifica com algum grupo social? Acredita que pertence à minoria ou à maioria de seu ambiente de convívio? Por quê? Como uma minoria consegue dominar uma maioria?
Em 1967, em uma escola americana, um professor conduziu uma experiência interessante. Ele recriou, por aproximadamente uma semana, o ambiente nazifascista da Alemanha pouco antes da II Guerra Mundial. O professor, popular e carismático, tinha cerca de 25 anos de idade; seus alunos, aproximadamente 15 anos. O experimento, que teve início como brincadeira e com um pequeno número de alunos, foi encerrado com mais de 200 envolvidos.
No primeiro dia, o professor abordou sobre disciplina, uma das características que marcou o período da Alemanha nazista. Colocou-a em prática e exigiu dos seus instruendos uma nova postura em sala, como sentar e andar corretamente e utilizar a forma adequada de tratá-lo. O professor estimulou, ainda, o silêncio, a obediência, o respeito e a pontualidade.
Os alunos transformaram-se totalmente: perguntavam e respondiam com maior frequência e estavam mais participativos e interessados. Aqueles que nunca falavam se tornaram mais falantes. Em consequência, o aprendizado, como um todo, melhorou.
No momento seguinte, os alunos receberam informações sobre a comunidade e a força que podiam ter e exercer. Foi criado um gesto de saudação entre eles. Passaram a se sentir pertencentes a uma comunidade e se reconheciam mais fortes. Outros estudantes perceberam a força do movimento e pediram para participar do grupo.
No terceiro dia, foi criado um cartão de adesão. Alunos de outras classes pediram para se mudar para a sala de aula do professor. Alguns foram selecionados para vigiar os outros e fazer relatórios daqueles que desobedeciam às regras.
Nas aulas, eram ministrados assuntos sobre demonstração da força pela ação e a importância da família, do coletivo, da lealdade e do trabalho. Percebeu-se a melhora do rendimento dos estudantes, que se sentiam realizados. Aqueles que eram mais frágeis consideraram o movimento a razão de viver; os que eram solitários se dedicaram mais ao grupo.
Num determinado momento, verificou-se que a situação havia ficado fora de controle. Surgiu uma espécie de fanatismo pelo movimento. Ações irracionais tornaram os discentes cegos e manipuláveis. Além disso, foi percebido o sentimento de ameaça que esse grupo representava para o restante dos alunos da escola, que se sentia acuado e com medo e obrigado a se submeter às vontades da minoria.
No quinto dia, os envolvidos foram reunidos em um auditório para que fosse esclarecido o que havia ocorrido: eles tinham sido usados em uma experiência que teve início porque haviam perguntado ao professor Como o cobrador de impostos, o soldado alemão, o professor, o motorista da estrada de ferro, a enfermeira... o cidadão médio puderam dizer que, ao fim do Terceiro Reich, não sabiam nada sobre o que estava acontecendo?”. “Como pode um povo ser parte de algo e depois reclamar no final que eles não estavam realmente envolvidos?”. “O que leva as pessoas a sair em branco de sua própria história?”
O relato acima foi publicado pelo próprio professor Ron Jones, em 1976, com o título “A Terceira Onda”, nome do movimento criado na escola. Em 1981, transformou-se em filme com o título “A Onda”, ocorrendo um remake em 2008.
No evento descrito, apurou-se que houve perda do individualismo. Estudantes mudaram atitudes e opiniões, que antes eram próprias de cada um, e se ajustaram às novas que eram específicas a essa coletividade. Verificou-se, também, o efeito “manada” que consiste em cada vez mais pessoas seguirem, ou passarem a agir de acordo com o grupo dominante sem refletirem o porquê de adotar determinado procedimento. Nesse contexto, observou-se que o número de seguidores havia aumentado drasticamente, num curto período de tempo, e que os alunos eram dominados com facilidade. 
Em que pese o experimento não ter tido intuito ideológico, percebe-se como foi fácil manipular as cabeças dos jovens. Ao término dele, muitos fizeram de conta de que não participaram e de que não foram vítimas.
A história da escola americana explica o perigo da doutrinação. Muito do que aconteceu pode ser explicado pela psicologia humana. Em 1921, Sigmund Freud, considerado o pai da psicanálise, lançou a obra "Psicologia das Massas e Análise do Eu", abordando a questão das massas na sociedade. Em sua obra, argumentou que “inserido na massa, o ser humano pensa, sente e age de maneira diversa de quando está sozinho”. Em suma, o indivíduo submete sua peculiaridade à massa e se deixa sugerir por outros; sente a necessidade de estar com o grupo e não de se opor a ele.
Muitas são as estratégias adotadas para manipular as pessoas. Noam Chomsky cita algumas delas: distrair, criar problemas e oferecer a solução, tratar o público na ignorância e na mediocridade, dirigir-se as pessoas como crianças...
Por que manipular?
- Para atingir objetivos políticos, econômicos, religiosos e ideológicos, dentre tantos outros.
O maior ensinamento que se pode extrair do fato ocorrido na escola é que, para não ser chamado de “Maria vai com as outras”, devemos pensar, estudar, raciocinar, ser imparcial e tirar as próprias conclusões sem emoção. Só para recordar, essa expressão popular é empregada para se referir àquele que tem dificuldade de opinar e de demonstrar vontade própria, normalmente seguindo a decisão do grupo no qual se encontra. 
O termo pode ter surgido com Dona Maria I, rainha de Portugal, mãe de D. João VI, conhecida como "A Louca" devido aos seus problemas mentais. No caso da rainha, ela tinha o apoio da realeza e, provavelmente, contava com o respeito de todos devido ao título de nobreza que possuía. Por não ser capaz de governar, foi afastada do trono; além disso, era vista, esporadicamente, caminhando com suas damas de companhia, sempre conduzida por outros.
Para reflexão: você acredita em tudo que vê e lê? É crítico? Tira suas próprias conclusões? Caso siga outros, tem as facilidades e regalias da realeza?
Respondendo à pergunta do título deste texto.
- Sim, você é manipulado diariamente.
Por fim, já ouviu falar em Antonio Gramsci ou no gramscismo?
O Cel Fontes é Oficial de Artilharia oriundo da Academia Militar das Agulhas Negras. Possui os seguintes estágios e cursos pelo Exército Brasileiro: estágios de Escalador Militar e de Operações Psicológicas, capacitação em Planejamento Estratégico Organizacional, especialização em Bases Geo-Históricas para Formulação Estratégica, mestrado em Operações Militares e mestrado em Ciências Militares, cursos de Comando e Estado-Maior, Básico Paraquedista e Básico de Inteligência Militar. Na Agência Brasileira de Inteligência realizou o curso de Noções do Fenômeno Terrorismo e na Escola Superior de Guerra, o Curso de Extensão de Doutrina de Operações Conjuntas. No exterior, especializou-se em Inteligência Estratégica no Instituto de Inteligência das Forças Armadas Argentinas; em Segurança Militar Nacional e Comando na Universidade de Defesa Nacional da China; em Doutrinação Política em Comunicação Social e em Operações em Comunicação Social, estes dois últimos cursos realizados na escola da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), na Alemanha. Foi analista de inteligência do Ministério da Defesa e analista de Contra-Inteligência no Centro de Inteligência do Exército. Comandou os Grupos de Operações de Inteligência da 3ª Brigada de Infantaria Motorizada em Cristalina/GO e da 16ª Brigada de Infantaria de Selva em Tefé/AM, o Núcleo de Preparação de Oficiais da Reserva do 3º Grupo de Artilharia de Campanha - Regimento Mallet, em Santa Maria/RS, o curso de Artilharia da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais no Rio de Janeiro/RJ e o 7º Grupo de Artilharia de Campanha - Regimento Olinda, em Olinda/PE. Atualmente é o chefe da Seção de Operações da Divisão de Planejamento e Gestão do Centro de Comunicação Social do Exército.
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