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quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Família militar: bandeirantes contemporâneos contribuindo para a coesão nacional

 

Por Tenente_ Coronel Fernando Casagrande Esteves

Uma conhecida passagem bíblica presente no livro de Gênesis remete ao périplo realizado periodicamente pelos militares e suas famílias: Então o SENHOR veio a Abraão e lhe ordenou: sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, e dirige-te à terra que te indicarei!

Seguindo semelhante ordenança, milhares de homens e mulheres de farda desbravam os mais recônditos rincões do Brasil, plenos de coragem, patriotismo e altruísmo.

Aprendemos nos bancos escolares a mecânica do surgimento de cidades: uma ou mais famílias chegam a um local onde há condições de subsistência e campo de trabalho (agricultura ou mineração, por exemplo) e, assim, surge uma fazenda com uma administração rudimentar. Em seguida, uma igreja é construída e, logo, uma praça. Em torno desse pequeno núcleo pioneiro, nasce um comércio local. Então, já existe um povoado, que se expande, atrai mais famílias, gera mais atividade econômica e segue uma lógica de crescimento, geralmente desordenada. Ao longo do tempo, tais arranjos darão origem a um ou mais adensamentos populacionais, constituindo futuros distritos, cidades e  metrópoles, com todas as estruturas políticas, econômicas e sociais conhecidas.

A história do Brasil é repleta de exemplos desta bem-sucedida mecânica de colonização. Pode-se dizer que o País tomou seus contornos atuais a partir da interiorização, impulsionada no século XVIII, com as Entradas e Bandeiras, no florescer da atividade mineradora – o próspero ciclo econômico do ouro. Mesmo antes, Pedro Teixeira havia realizado o feito extraordinário de navegar pelo então desconhecido rio Amazonas, instalando fortes e fortins em posições estratégicas, em uma expedição que foi a gênese do imenso território que hoje conhecemos como a Amazônia brasileira.

A ocupação militar do território nacional seguiu uma sistemática similar, tendo se intensificado a partir do século XIX e prosseguindo até os dias atuais. São inúmeras as cidades que cresceram em torno dos quartéis, notadamente após a década de 1960, quando a visão estratégica dos governos militares permitiu o investimento na integração nacional, instalando novas unidades em pontos estratégicos, como parte das políticas públicas que traziam o lema “integrar para não entregar”.

Em sua obra “A Geopolítica Brasileira – Predecessores e Geopolíticos”, o General Carlos de Meira Mattos cita o Brigadeiro Lysias Rodrigues e suas ideias da década de 40 e 50: “O deslocamento do homem brasileiro para o sertão é um problema de economia dirigida, dando-se a ele e sua família o transporte até o local, fixando-se a gleba que lhe toca, fornecendo-lhe as ferramentas, as sementes e o financiamento para sua alimentação e instalação...” Da mesma forma, muitas propostas geopolíticas de expoentes pensadores, como o Professor Everardo Backheuser e o General Mario Travassos, inspiraram a efetiva ocupação do interior e foram incorporadas aos projetos dos sucessivos programas de governo à época. Era a versão brasileira da “marcha para o oeste”,  que abria estradas, promovia a articulação terrestre, diversificava a nossa matriz energética, ocupava as regiões lindeiras críticas e plantava as bases para a expansão da fronteira agrícola que posicionaria o Brasil entre as dez maiores economias do mundo.

Neste contexto, a contribuição da família militar para o crescimento das cidades brasileiras é bastante significativa, na medida em que sempre trouxe a seu reboque, literalmente, contribuições econômicas e culturais valiosíssimas para o desenvolvimento de um país de dimensões continentais como o Brasil.

Dentro de uma política de pessoal cuidadosamente planejada a partir de vários e importantes fatores, dentre os quais se destaca o princípio da vivência nacional, o (a) militar e a sua família são movimentados de uma região à outra do Brasil, conciliando as necessidades do serviço com os interesses pessoais, sempre que possível. O período de permanência é variável e gira em torno de dois a três anos, conforme o posto, a graduação ou o momento da carreira.

Mais de oitocentas organizações militares espalhadas pelo País recebem verdadeiros contingentes populacionais, em um fluxo autossustentável retroalimentado anualmente, especialmente entre os meses de dezembro e janeiro. Nessa época, a família militar troca as embalagens dos presentes de fim de ano por caixas de papelão e caminhões de mudança, cruzando o solo pátrio em direção ao novo destino, quando, muitas vezes, as estradas e os hotéis de trânsito constituem os locais de passagem do Natal e do Ano Novo. As crianças crescem associando as luzes natalinas ao som do desenrolar das fitas adesivas e do singelo estouro das cápsulas de ar do plástico-bolha, ou mesmo ao cheiro de tinta fresca das novas residências, em um misto de nostalgia e alegre excitação com a jornada vindoura.

Atributos como adaptabilidade, resiliência, desprendimento e abnegação são colocados à prova. A família militar deve “reinventar-se” a cada movimentação, e o esforço da adaptação é impositivo: novo trabalho, nova morada, novos hábitos, novas rotinas, novas escolas e novos amigos – uma lista interminável de novidades que exigem de todos os integrantes muito mais do que um espírito aventureiro. Faz-se imprescindível ter fé na missão, como genuínos bandeirantes contemporâneos.

A instalação nos locais de destino marca o início da nova missão e, então, o “sangue novo” circula pulsante pelas guarnições espalhadas por todo o País. Famílias sulistas passam a viver no Norte, e vice-versa, contribuindo para uma miscigenação cultural totalmente fortuita, mas, ao mesmo tempo, extremamente benéfica e desejável. Regionalismos, gírias, costumes e tradições são “transportados” por milhares de quilômetros de um ponto a outro, favorecendo a integração dos compatriotas da maneira mais espontânea possível, sem dar lugar a sectarismos.

Economias locais são aquecidas, o turismo é estimulado, a culinária é aprimorada e a coesão nacional é fortalecida, nas mais diversas manifestações de brasilidade. E, assim, em um mundo informacional cada vez mais complexo e difuso, a família militar cumpre um papel anônimo e fundamental: comunica, presencialmente, uma mensagem de devotamento à Pátria, de compromisso com a Nação e de amor ao Brasil.

SOBRE O AUTOR

Fernando Casagrande Esteves, Tenente-Coronel de Infantaria do Exército Brasileiro, servindo atualmente no Centro de Comunicação Social do Exército. Formado na Academia Militar das Agulhas Negras (1999), é especialista em Operações na Selva pelo Centro de Instrução de Guerra na Selva e em Segurança e Defesa Nacional pela Escola Superior de Guerra da Colômbia. Comandou a 1ª Companhia de Fuzileiros de Força de Paz no Haiti em 2010. Concluiu o Curso de Comando e Estado-Maior na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército em 2016 e foi instrutor do Curso de Estado-Maior da Escola Superior de Guerra da Colômbia em 2019.

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