Major de Artilharia Alan Dias Rossini
A psicologia positiva é um campo de estudo dentro da psicologia que foca nos elementos que podem trazer felicidade às pessoas. Assim, em vez de priorizar a identificação de desvios ou patologias mentais, o segmento volta-se para a manutenção e o reforço do bem-estar do paciente. Isso não significa deixar as doenças de lado, mas, sim, concentrar em aspectos positivos da existência humana.
Segundo esse movimento, o segredo para se levar uma vida mais satisfatória é construir um modelo mental otimista. Para tanto, é preciso treinar o cérebro e deixar os padrões negativos de lado, exercitando, com frequência, mecanismos de gratidão e resiliência.
É fundamental entender como a psicologia vem sendo aplicada na sociedade. Ao longo do século XX, ela encarregou-se muito bem dos problemas e das patologias, ocupando-se do que havia de errado com as pessoas e com o que não funcionava.
Hoje, o conhecimento para diagnosticar e tratar os mais diversos transtornos mentais, antes sem tratamento, é uma realidade. Porém, uma lacuna no processo foi percebida, na década de 1990, por Martin Seligman, então presidente da Associação Americana de Psicologia (APA), que descobriu os melhores aspectos das pessoas. Dessa forma, nasce a psicologia positiva, que foca nos motivos que fazem nossas vidas valer a pena.
A partir de pesquisas, Seligman e outros estudiosos iniciaram a investigação do que está por trás do bem-estar ou da felicidade, focando em aspectos positivos da existência humana. Assim, o desenvolvimento e o aprimoramento de qualidades positivas passou a integrar o movimento.
O objetivo da psicologia positiva é possibilitar uma transformação na psicologia, saindo da preocupação em reparar o que está ruim para a construção do que promove bem-estar e qualidade de vida. Não se trata de ignorar o que não funciona, mas destacar e valorizar o que está funcionando bem. Por essa razão, seu estudo é focado na felicidade, isto é, em como as pessoas podem se tornar mais satisfeitas. Em vez de se concentrar nas disfunções e fraquezas, concentram-se no que é funcional e forte.
A psicologia positiva tem desempenhado um papel extremamente importante no mundo atual, pois atua com foco na promoção da saúde mental. Diversas pesquisas científicas relacionam o bem-estar mental à prevenção de doenças, uma vez que estados emocionais negativos podem colaborar para o desenvolvimento ou agravo de patologias. Ela proporciona maior satisfação e felicidade à vida, fornecendo motivação e energia para a conquista dos objetivos.
A psicologia positiva é sustentada em três pilares: o primeiro refere-se ao estudo das emoções positivas; o segundo está voltado aos traços positivos, principalmente às forças e às virtudes; e, por fim, o terceiro corresponde ao estudo das instituições positivas, como a democracia, a família e a liberdade.
Além disso, Seligman sentiu a necessidade de estabelecer cinco pilares para se obter o bem-estar, os quais são abordados no livro “Florescer” a partir da mensuração de cinco fatores:
Positive emotion (emoção positiva): diz respeito às partes essenciais do bem-estar. É quando as pessoas conseguem olhar para o passado com alegria, para o futuro com esperança e, ainda, aproveitar o presente.
Engagement (engajamento): quando as pessoas conseguem focar completamente nas atividades que estão realizando, isto é, possuem atenção plena no momento presente.
Relationships (relacionamentos): estabelecer relacionamentos é da natureza humana. É comprovado que o bem-estar aumenta à medida que construímos relacionamentos saudáveis com familiares, amigos, vizinhos e colegas de trabalho.
Meaning (significado): refere-se ao que dá sentido à vida das pessoas. Isso pode ocorrer por meio de caridade, contribuição política, prática religiosa ou apoio a causas sociais.
Accomplishment (realização): é o aspecto que corresponde ao sentimento de vitória em algum momento da vida. É olhar para as experiências do passado e se sentir realizado pelo que fez.
A psicologia positiva demonstrou uma gama de intervenções que podem aumentar o bem-estar e prevenir o desequilíbrio da saúde mental. Existem três que podemos colocar em prática de imediato!
Saborear:
A técnica consiste em tomar consciência do prazer e tentar fazer com que ele permaneça. Uma forma de cultivar emoções positivas é potencializar o impacto emocional de algo bom que acontece em nossas vidas. Para tanto, é necessário ficar totalmente absorto nos momentos de prazer, sem pensar em outras coisas.
Sentir-se grato:
Pessoas que demonstram gratidão estão mais satisfeitas com as próprias vidas. Psicólogos que usam esse recurso pedem aos pacientes para anotar em um caderno as coisas boas que aconteceram ao longo do dia e pelas quais eles se sentem gratos. O exercício é uma forma de prestar mais atenção aos aspectos positivos do dia a dia.
Identificar a própria força:
É necessário conhecer as suas qualidades e virtudes. Todo indivíduo tem uma força própria, independentemente das pessoas que o cercam. O enfoque é usado no acompanhamento de pessoas com baixa autoestima ou alguma debilidade.
Para os profissionais de diversas áreas, sobretudo para os de psicologia, investir no estudo dessa vertente significa entender uma forma diferente da tradicional de levar aos pacientes, aos colegas de trabalho e a si mesmo uma nova forma de lidar com os desafios.
Em menos de uma década, a psicologia positiva chamou a atenção não só da comunidade acadêmica como do público em geral. Importante destacar que ela, enquanto ciência, não descarta os problemas reais das pessoas, assim como não contradiz os ramos tradicionais da psicologia.
SOBRE O AUTOR
Major de Artilharia Alan Dias Rossini
Mestre em Psicologia pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; especialista em Psicopedagogia Escolar pelo Centro de Estudos de Pessoal e Forte Duque de Caxias (2014); especialista em Artilharia Antiaérea pela Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea (2006); e bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (2002). Oficial do Exército Brasileiro, foi chefe da Seção Psicopedagógica do Centro de Instrução de Guerra na Selva em 2015 e 2016 e integrante da Seção Psicopedagógica da Academia Militar das Agulhas Negras de 2017 a 2020. Desenvolve pesquisa sobre psicologia positiva, estresse e instrumentos de observação, desenvolvimento e avaliação de competências transversais (conteúdos atitudinais) em contextos militares.
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