quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

O Programa Lucerna e as novas ameaças à segurança nacional

Por Major Alexandre Lepri de Medeiros

O Programa Lucerna é uma das vertentes do processo de transformação da Força Terrestre que visa aperfeiçoar o Sistema de Inteligência do Exército (SIEx).

O então Projeto Lucerna do Exército Brasileiro surgiu com base nos estudos realizados por um grupo de trabalho no ano de 2010. Entre os anos de 2011 e 2014, diversas ações decorrentes desses estudos foram pensadas, culminando com a emissão das diretrizes de implantação do Projeto Lucerna no ano de 2014.

Compreendendo a importância do referido projeto, o Comando do Exército o alçou à categoria de Programa Estratégico do Exército em 2017, passando, dessa forma, a ser designado não mais como um projeto e sim como um programa, o que, na prática, facilitou o aporte de recursos financeiros para o seu desenvolvimento.

A elaboração de cenários futuros é uma das atividades desenvolvidas pelas organizações de inteligência. O trabalho metódico e a integração de diversos especialistas possibilitam a formulação de prováveis quadros futuros, permitindo um planejamento adequado no presente.

A pandemia de covid-19 surpreendeu o mundo no início do ano de 2020. Essa afirmativa, amplamente divulgada pelos veículos de imprensa e proferida no meio político, não expressa propriamente uma verdade.

A obra “O Novo Relatório da CIA: como será o mundo amanhã”, de 2009, baseada em análises dessa agência americana, traz a seguinte prospecção a respeito da possibilidade da eclosão de uma pandemia, sinalizando quatro cenários futuros:

A emergência de uma nova doença respiratória humana altamente transmissível e virulenta para a qual não há contramedidas adequadas poderia iniciar uma pandemia global. Se uma pandemia surgir por volta de 2025, tensões e conflitos internos e externos poderão ocorrer conforme os países lutam — com capacidades degradadas — para controlar o movimento de populações que buscam evitar infecção ou manter acesso aos recursos. [...] Se uma pandemia surgir, ela provavelmente irá ocorrer em uma área marcada por grande densidade populacional e com próxima associação entre humanos e animais, como muitas áreas da China e do Sudeste Asiático, onde populações humanas vivem muito próximas das criações de animais. (The National Intelligence Council’’s, 2009).

Em “Um mundo sem o Ocidente”, as novas potências superam o Ocidente como líderes no palco mundial, destacando-se a China e a Índia. A obra “A surpresa de outubro” aborda uma crise mundial advinda das mudanças climáticas que se acentuam muito além do esperado. Em “A arrancada dos BRICs”, a disputa sobre recursos vitais suscita uma fonte de conflito entre as grandes potências emergentes. Em “Nem sempre a política é local”, redes formadas por atores internacionais não estatais emergem para estabelecer a agenda internacional suplantando os governos.

A apresentação dessas prospectivas do passado para o presente visam mostrar a relevância, por meio de um exemplo atual, de uma das atividades de inteligência que se encontra nos mais altos níveis das organizações – a elaboração de cenários futuros.

Dessa maneira, as nações que melhor anteverem ameaças, mesmo considerando diferentes graus de incerteza, poderão se preparar de forma mais adequada para seu eventual enfrentamento, mitigando os danos causados.

Nesse cenário, o Programa Lucerna do Exército Brasileiro subdivide-se em três eixos estruturantes que lhe dão forma: os Projetos Ares, Hermes e Atena.

O Projeto Ares visa à transformação das estruturas de Inteligência Militar. Nesse escopo, destaca-se a consolidação do 6º Batalhão de Inteligência Militar, em Campo Grande (MS), e a implantação dos 1º e 4º BIM nas cidades de Porto Alegre e Manaus, respectivamente. Também está incluído o estudo para a implantação de novos núcleos de batalhões de inteligência e companhias de inteligência, além da instalação de novos grupos de operações de inteligência.

Em uma outra vertente, o Projeto Hermes objetiva a modernização das estruturas de tecnologia da informação e comunicações. Nesse viés, busca o aprimoramento dos meios de obtenção e de análise de fontes de sinais, cibernéticas e de imagens, além da integração das estruturas de obtenção de dados e estruturas de análise dessas fontes. Essa vertente encontra-se intimamente ligada ao Programa de Defesa Cibernética, também do Exército Brasileiro.

O Projeto Atena, por sua vez, procura realizar o aprimoramento e a modernização do ensino da disciplina de Inteligência Militar no âmbito do Exército. Nesse intento, está sendo concebida a nova Escola de Inteligência Militar do Exército (EsIMEx), com a inserção de novos cursos, como o de Reconhecimento e Vigilância, e a construção de novas e modernas instalações. Outra contribuição para sua efetivação é a inserção de assuntos atinentes à Inteligência Militar nos Planos Disciplinares dos diversos estabelecimentos de ensino do Exército.

Dessa maneira, o Exército Brasileiro, incumbido de sua missão constitucional de defesa da Pátria, possui o grande desafio de estar apto a se antever e responder às novas ameaças que surgirão de forma a contribuir substancialmente para a segurança nacional.

Por fim, com esse grande esforço, espera-se dotar o Sistema de Inteligência Militar com a capacidade para apoiar o cumprimento das missões constitucionais do Exército com maior efetividade, de forma a mantê-lo como referência no âmbito nacional e alçá-lo a novos desafios, compatíveis com a grandeza almejada para o Brasil no cenário internacional.

 

REFERÊNCIA

BRASIL. Estratégia Nacional de Inteligência. Brasília, DF, 2017.

BRASIL. Exército. Plano Estratégico do Exército (2020 – 2023). EB 10-P-01.007. Brasília, DF: EME, 2019.

BRASIL. Presidência da República. Estratégia Nacional da Defesa. Brasília, DF, 2012a.

BRASIL. Presidência da República. Política Nacional da Defesa. Brasília, DF, 2012b.

BRASIL. Presidência da República. Política Nacional de Inteligência. Brasília, DF, 2016.

DA SILVA, Anderson Xavier. Apresentação ao Curso Avançado de Inteligência, 2021. 34 slides

O Novo Relatório da CIA: como será o mundo amanhã. The National Intelligence Council’’s; introdução de Heródoto Barbeiro: Geração Editorial, 2009.

SOBRE O AUTOR

Major de Cavalaria Alexandre Lepri de Medeiros, Turma de Formação 2003, possui o Curso Intermediário de Inteligência da Escola de Inteligência Militar (EsIMEx), atualmente cursando o 2º ano da Escola de Comando e Estado Maior do Exército (ECEME).

Acesse este link para entrar no meu grupo do WhatsApp: Te espero lá 
 https://chat.whatsapp.com/Fq9ecaOC5Cp5zUXDbkDvON



Nenhum comentário:

Postagem em destaque

Grupo de Operações com Cães se destaca na segurança do Presídio Regional de Montes Claros/Norte do estado

O GOC, pode prestar apoio em Operações conjunta com as coirmãs, em situação que requer o faro apurado do animal, desarticulando ações no com...

Postagens mais visitadas

"Tudo posso Naquele que me fortalece"

"Tudo posso Naquele que me fortalece"
Deus no Comando!

Declaração Universal dos Direitos Humanos.Adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas

Declaração Universal dos Direitos Humanos.Adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas
Artigo 1 Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. Artigo 2 1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. 2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania. Artigo 3 Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 4 Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. Artigo 5 Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Artigo 6 Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei. Artigo 7 Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. Artigo 8 Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei. Artigo 9 Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. Artigo 10 Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir seus direitos e deveres ou fundamento de qualquer acusação criminal contra ele. Artigo 11 1.Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. 2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte de que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso. Artigo 12 Ninguém será sujeito à interferência na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

"Siga-me, os que forem brasileiros".

"Siga-me, os que forem brasileiros".

Fórum Ibero Americano_ Conhecimento é Poder!

Fórum Ibero Americano_ Conhecimento é Poder!
Foi realizado nos dias 15,16,17 de abril de 2019, pelo Exército Brasileiro, o III Fórum Ibero- Americano de Defesa Cibernética, no evento representantes e Comandantes das Comitivas da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Espanha, México, Paraguai, Peru, Portugal, Uruguai, e palestrantes dos Estados Unidos, marcaram presença.O Fórum foi criado em 2016, na Espanha, para atuar no incremento da cooperação e integração no setor cibernético entre os países envolvidos. Os debates também proporcionam conhecimento mútuo sobre a doutrina e a capacidade cibernética, bem como contribuem para a proteção cibernética no âmbito dos países ibero-americanos por meio do compartilhamento de informação. No primeiro dia de atividades, aconteceu a passagem do cargo de Secretário do Fórum, do General de Brigada Tomás Ramón Moyano, Comandante Cibernético da Argentina, para o General de Divisão Guido Amin Naves, Comandante Cibernético do Brasil, que ficará no posto pelo período de um ano.

" Quando uma Mulher descobre o tamanho da força que guarda dentro de si, nada é capaz de pará-la"

Obrigada pela sua visita!

Obrigada pela sua visita!
A você que chegou até aqui, agradecemos muito por valorizar nosso conteúdo.