Flavio Goldberg/Eblog do Exército
Vivemos um “zeitgeist" contemporâneo, uma época iconoclasta. Realmente, todos os valores morais, religiosos, educacionais e econômicos estão debaixo de polêmicas em todo o mundo.
A civilização enfrenta, na barbárie de conflitos bélicos, culturais e étnicos, um desafio que só encontra precedentes históricos nas Grandes Guerras que caracterizam o século XX, como a hecatombe da morte de dezenas de milhões de pessoas saindo das trincheiras rústicas do corpo-a-corpo com baionetas até os bombardeios nucleares.
Nesse cenário universal, o conceito de Exército como a Força Armada da Nação, reverenciada na Constituição da República, tem seu papel permanentemente questionado, objetiva e subjetivamente.
Independentemente de posturas filosóficas ou plataformas políticas e ideológicas, existe, no inconsciente coletivo brasileiro, uma sincronicidade que iguala na farda gesto do verde-amarelo à simbiose do país pátria.
Se complementamos essa ordem de raciocínio com a materialidade do território, esse processo atávico se ajusta no atemporal e no inespacial.
Traduzindo essa contingência, podemos armar um sociodrama da caserna, como o quartel que abriga o “lar da emoção” de pertencimento nacional ao desfile, que é o movimento definido por Einstein como o sinônimo de vida.
Essas prospecções sugerem, outrossim, um desenvolvimento que se estriba na razão da superestrutura da defesa da soberania nacional até complexas placas tectônicas da imagética idiomática de nossa língua materna.
Aos primeiros acordes do Hino Nacional, o brasileiro, turista em qualquer recanto do planeta, automaticamente, tensiona-se em uma posição de sentido em que a hierarquia se afirma como dever de retorno ao útero criador.
“Não permita Deus que eu morra sem que volte para lá” cantaram nossos pracinhas, a tropa que na FEB escreveu as páginas gloriosas de nosso contributo nas batalhas que, em Montese, simbolizaram tudo que, do futebol ao samba, celebra esse traço romântico que é a jornada do herói, apanágio de nosso Exército.
Na convulsão de interesses e contradições plurais da sociedade moderna, é fundamental que um país continental como o nosso tenha, no seu Exército, o consenso de amor à pátria.
Esse processo demanda, a nosso ver, um atencioso e permanente zelo na educação dos jovens, pois é dela que pode e deve surgir esse potencial de grandeza que transforma a massa em povo, o povo em nação e a nação em ideal de fé e esperança.
Se na constituição dos sentimentos que emprestam singularidade à pátria o “mito do herói” ocupa lugar de destaque, podemos usar dois exemplos paradigmáticos:
- Desde a infância, quando os pais querem qualificar um comportamento rígido de disciplina, moralidade, empenho e elegância em um filho, usam a expressão “este menino é ‘caxias’”. E isso se estende a todo um estilo de ser que se contrapõe, em geral, ao preguiçoso, mentiroso, desleixado e macunaímico.
Nosso Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, portanto, que é a majestática presença das virtudes militares, é também o monopólio da sociedade, que internaliza e incorpora os mais altos princípios da realização pessoal.
- O envolvimento da Força Expedicionária Brasileira na luta contra o Eixo e o seu retorno triunfante, assimilaram uma identificação que pesou, seriamente, na redemocratização do País.
A admiração conquistada, principalmente por sua conduta ética na Itália, sem dúvida, faz parte da fantasmática brasilidade que orna nosso lastro junto à opinião pública: jovial, alegre e “bravo no combate que aos fracos abate” nos versos imortais do poeta.
Argamassa de um repertório glorioso e, ao mesmo tempo, afetivamente intimista.
As fronteiras físicas privilegiadas de nosso país merecem e exigem a proteção da tropa. A trincheira é a subjetividade despojada de um só cadinho de gente de todas as origens e de todos os horizontes.
Este processo demanda, a nosso ver, um atencioso e permanente zelo na educação dos jovens, pois é dela que pode e deve surgir este potencial de grandeza que transforma a massa em povo, o povo em nação, a nação em ideal de fé e esperança.
Este é o magno desafio de nossa geração, enraizado na instituição universal de significados éticos, determinação militar orgulhosa de um Brasil ocupando o protagonismo reservado ao nosso povo no consensual das nações livres.
Sobre o autor
Flavio Goldberg, graduado em Direito pela Universidade Anhembi Morumbi, é pós-graduado, especializado em Direito Processual Civil com capacitação para Ensino no Magistério Superior pela Faculdade Damásio de Jesus e Mestre em Direito pela Faculdade Autônoma de Direito de São Paulo, FADISP. Foi professor de Direito na FAM, Faculdade das Américas. Além de operar em advocacia e consultoria jurídica em seu escritório, atua como coordenador do grupo de Direito, Psicologia e Comunicação na Academia Paulista de Direito. É autor dos livros “Direito: dialética da razão” e “Mediação em Direito de Família: aspectos jurídicos e psicológicos”, e coautor do livro “O Direito no Divã: Ética da emoção”. É palestrante e escreve artigos para diversas publicações.
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