A
honestidade é um valor derivado da honra e estreitamente relacionado com a
verdade.”
Por
General de Divisão R1 Joarez Alves Pereira Junior
É o que aponta uma
pesquisa realizada com quatro diferentes grupos, dois de civis e dois de
militares.
A figura do líder é primordial
no campo militar. A guerra é uma atividade coletiva, não se combate sozinho,
mas integrando um grupo, um pelotão, um batalhão. E no campo de batalha um bom
chefe, gerente ou administrador não basta, é preciso um líder capaz de conduzir
e guiar as ações. Daí a necessidade das escolas militares formarem líderes e
não apenas bons chefes.
A importância do líder, no
entanto, extrapola a atividade militar. Warren Bennis afirmou que um cientista
da Universidade de Michigan, ao listar as três principais ameaças para a
sociedade americana, apontou, dentre elas, a qualidade da liderança das
instituições que pudessem levar à destruição da sociedade.
Reconhecidamente, a figura do
líder é fundamental na condução das empresas, dos negócios e, particularmente,
para os dirigentes políticos e chefes de instituições responsáveis, em nome do
povo, pela condução dos desígnios de uma nação.
Ao persistir no estudo do tema
liderança, ao qual fui exposto durante meus 44 anos de serviço ativo, realizei
a pesquisa já mencionada com dois grupos de militares do Exército, oficiais e
praças, e dois grupos de civis, empresários e acadêmicos. Para tanto, foram
definidos 38 atributos/valores/atitudes (AVA) para serem julgados sobre o
grau de importância dos mesmos para o líder. Os pesquisados deveriam opinar se
cada um deles era imprescindível, importante, desejável ou dispensável.
Vários aspectos interessantes
foram revelados durante a análise dos resultados e o primeiro deles destaco
neste artigo: dos 10 atributos mais votados como imprescindíveis por cada
grupo, somente três apareceram nas quatro listagens, quais sejam, honestidade,
responsabilidade e integridade. Mais significativo ainda é que em três dos
quatro grupos, o AVA considerado como o mais imprescindível foi a honestidade.
A honestidade é o valor de quem
apresenta probidade, honradez, que não se deixa corromper. Por sua vez, a
responsabilidade diz respeito à obrigação de responder pelas ações próprias ou
de outrem que esteja realizando atividade conforme sua determinação. A
integridade está associada à conduta reta, à pessoa ética; está ligada à inteireza, a ser pleno, um caráter sem falhas. Portanto,
responsabilidade e integridade estão intimamente associados à honestidade.
É estimulante ver que
diferentes grupos têm percepção próxima da retomada de um valor que parecia
enfraquecido na nossa sociedade. Pareceu mesmo que tínhamos nos tornados
viciados em processos corruptivos e que não percebíamos o mal que eles poderiam
trazer à coletividade como um todo e a cada um de nós em particular.
Chegou a parecer que não
tínhamos mais força para oferecer resistência, que a sapiência de Rui Barbosa
ao afirmar que “de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a
desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os
poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da
honra, a ter vergonha de ser honesto” era incontestável e irreversível verdade.
Parecíamos ter vergonha de ser honestos.
Alegra ver o resultado de uma
pesquisa que aponta nova tendência. Quem sabe essa pequena semente germine, a
despeito do mal trato do solo ao seu redor. Quem sabe Shakespeare nos inspire
novamente para acreditar que “nenhuma herança é tão rica quanto à honestidade”.
* Artigo publicado
originalmente na edição impressa do Correio Brasiliense de 31 de julho de 2020.