Artigo escrito pelo Coronel Swami de Holanda _ Agência Verde Oliva _ Centro de Comunicação do Exército Brasileiro.
“Vencendo o inimigo pelo coração” é uma frase de efeito, uma metáfora
e significa que, para se conquistar um objetivo, deve-se agir nos
sentimentos, em especial, nas necessidades das pessoas. Se a leitura do
texto foi iniciada por causa do título, é porque a curiosidade do leitor
foi instigada, uma característica humana. Esse é um artifício empregado
para explicar como a propaganda deve ser planejada e executada.
Para ganhar uma guerra, é preciso vencê-la inicialmente em casa.
Exemplo: é possível que os EUA tenham perdido a guerra do Vietnã em seu
próprio território, no momento em que os americanos deixaram de apoiar a
ida de seus filhos para uma luta que não seria deles. Nesse caso, a
propaganda dentro de casa a favor da guerra foi inadequada. O mesmo
raciocínio pode ser empregado na venda de um produto ou numa campanha
eleitoral. Primeiramente, conquista-se o consumidor ou o eleitor de
forma afetiva. Só assim obter-se-á êxito.
Para a condução da opinião pública a uma finalidade desejada, algumas
considerações devem ser feitas. A propaganda é um meio para atingir um
fim, devendo ser trabalhada com habilidade, pois sua aplicação é uma
arte que, se bem conduzida, produz resultados satisfatórios.
Caríssimo leitor, a partir de agora, antes de repudiar as ideias aqui
escritas, tenha paciência e leia o artigo até o final. Não condene
precipitadamente o que vem a seguir.
Para montar uma campanha comunicacional, é necessário profundo
conhecimento da natureza humana. O planejador deve, em primeiro lugar,
conhecer a psicologia popular e ser capaz de comunicar uma ideia à
população.
A quem deve ser dirigida a propaganda? Aos intelectuais ou ao povo?
Resposta direta: ao povo, pois a propaganda deve chamar atenção sobre
fatos e necessidades, e não ensinar aos eruditos. Deve ser dirigida ao
sentimento e só muito condicionalmente à chamada “razão”. O sucesso será
inversamente proporcional à mensagem de conteúdo culto. O povo tem a
capacidade de compreensão limitada e esquece as coisas facilmente, por
isso, a propaganda deve se restringir a poucos pontos. Em suma, a grande
massa é desconhecedora da realidade.
O povo não tem condições, por exemplo, de perceber a diferença entre o
final da injustiça alheia e o início da sua própria justiça. A massa é
de natureza feminina, deixando-se guiar, no seu modo de pensar e agir,
mais pelo sentimento do que pelo racionalismo, pela razão. Esses
sentimentos são simples; ou são positivos, ou são negativos, nunca
havendo meio termo: ou é amor, ou é ódio; ou justiça, ou injustiça; ou
verdade, ou mentira.
Para que a memória entre em funcionamento com o propósito de influir
na população, sempre propensa a extremos, uma mentira, com pouca
informação, deve ser repetida constantemente. Qualquer nova divagação em
uma mensagem não deve jamais modificar o sentido do fim almejado pela
propaganda, que deverá acabar sempre ratificando a mesma coisa. Quanto
mais forte e inovadora for uma ideia, mais eficiente devem ser os seus
defensores.
As ideias acima são, nada mais, nada menos, de Adolf Hitler, o homem
que levou o mundo à guerra e milhões à morte. Não há pretensão de julgar
os pensamentos dele sobre a propaganda ou as massas, mas de levantar
como era sua visão e como considerava essa importante ferramenta na
condução da população para se atingir um objetivo.
Observador atencioso da política e perspicaz no dia a dia, Hitler
logo percebeu a importância da propaganda e, assim, tratou de
materializar seus pensamentos para a posteridade no livro Mein Kampf
(“Minha Luta”). Organizado em dois volumes, o primeiro foi escrito em
1925, ano em que o autor estava preso; e o segundo, em 1926, quando já
estava solto.
Na obra, Hitler expôs suas ideias antissemitas, racistas e
nacional-socialistas adotadas pelo partido nazista. Dividido em
capítulos, a “bíblia nazista” destaca duas partes interessantes para a
comunicação social: “A propaganda da guerra”; e “Propaganda e
organização”. Em ambas, explica erros e acertos da propaganda na
Alemanha e em outros países; mostra a importância do assunto e como deve
ser explorado para se obter os resultados desejados.
Hitler não foi inédito nesse pensamento sobre as necessidades
humanas. Na Roma Antiga, durante a política do “pão e circo”, conhecida
pelo lazer e comida fornecidos à população, os líderes romanos
“administravam” as massas para mantê-las fiéis à ordem estabelecida e
conquistar apoio.
Percebe-se que, para se alcançar um propósito, as massas são
conduzidas pelos que detêm o poder. A inteligência trabalha para
levantar as necessidades e a psicologia humana é aplicada na sociedade,
sendo essa a importância do “propagandista”. Pode-se dizer que esses
segmentos – a inteligência e as operações psicológicas – são vitais para
a produção de uma campanha de comunicação. A fase seguinte, que seria a
divulgação, está intrinsecamente ligada aos meios disponíveis. Na
atualidade, a velocidade da informação, a mobilidade e a popularização
do acesso às ferramentas de comunicação fazem o resto.
Tudo indica que os pensamentos de Hitler estão sendo empregados
diariamente em várias situações, pois a psicologia humana não se
modifica em tão pouco tempo. Isso é nitidamente notado quando vemos as
promessas em campanhas políticas. Normalmente, candidatos asseguram
atender às necessidades da população, pois consideram que seus alvos não
possuem acesso à informação, não são esclarecidos e têm memória curta.
Alguém lembra em qual candidato votou nas eleições de 2014 e 2016?
Por fim, se o leitor leu este texto até aqui, é porque se enquadra
num pequeno percentual da população descrito por Hitler. De acordo com
ele, apenas mínima parcela tem capacidade de absorver mais de uma
informação por vez e de receber informações complexas, o que se chamaria
“elite intelectual”. Assim, o senhor ou a senhora teria esse perfil.
Para reflexão: o pensamento de Adolf Hitler sobre as massas estava
correto? O leitor ou a leitora lembra-se do país que sediou a penúltima
Copa do Mundo e os últimos Jogos Olímpicos? Há algo novo na condução da
nossa sociedade?
A mensagem foi dada. Obrigado pela paciência!