Esta semana, a conceituada Jornalista, antropóloga e escritora Maria Silvério, veio a Montes
Claros para ministrar aula aberta no projeto Olhar, Imaginar, Agir, do
departamento de Ciências Sociais da Unimontes. O tema “Eu, Tu…Eles, Relações Amorosas Abertas
Não-Consensuais”, foi discutido no no úlitmo dia 24 de maio, às 18h30, na sala
117 da Universidade Estadual de Montes Claros.
Maria é autora do livro
“Swing: Eu, Tu… Eles” que aborda diversos modelos de relacionamentos
conjugais presentes nas sociedades ocidentais.
Em entrevista ao Blog Jornalismo Imparcial, Mária Silvério, falou de forma descontraída, sobre a sexualidade do universo masculino e feminino, adeptos ao Swing, acerca de
valores e modelos conjugais, sexuais, baseado em trabalho de campo realizado em um
clube de swing em Portugal e entrevistas com casais adeptos da prática.
* Tudo que você sempre quis saber e não teve coragem de perguntar, sobre Swing, você confere lendo, a entrevista com a jornalista, escritora e antropóloga Mária Silvério.
- Por que os casais buscam essa alternativa?
O motivo mais destacado em diferentes estudos para o envolvimento com o
swing é a variedade de experiências e de parceiros sexuais que a
prática proporciona. Outra razão encontrada é a busca por prazer e
excitação. Um terceiro motivo bastante alegado é a possibilidade de
conhecer pessoas novas e ampliar o círculo social do casal. A iniciativa
é quse sempre do homem e o processo de negociação é demorado. Alguns
casais chegam a ficar um ano amadurecendo a idéia. De fato, não é algo
que surge a ideia hoje e, amanhã, o casal já vai para uma casa de swing.
É preciso conversar bastante antes, demonstrar os medos, anseios,
desejos e vontades de cada um. O casal que vai para o swing sem estar
preparado corre o risco de arruinar a relação. Além disso, é comum os
casais frequentarem várias festas e não se envolverem com ninguém até
ficarem mais à vontade. No livro, por exemplo, entrevisto um casal que
frequenta o meio há três anos, já visitou casas em vários países da
Europa e resorts específcios no Caribe e nunca se envolveu com outras
pessoas porque a esposa ainda não se sente preparada. Mesmo assim, eles
gostam de frequentar este
unvierso porque a excitação do ambiente faz com que eles tenham uma noite de amor maravilhosa quando chegam em casa!
-
Como fica a dinâmica do casal depois de passar por uma experiência
dessas ou realmente aderir ao movimento? Ou seja, não é preciso preparo
emocional para lidar com ciúmes, com a ideia de “traição” etc?
Sim, claro! É preciso muita preparação emocional individual e do casal.
Como disse antes, é uma decisão que tem que ser bastante refletida e
pensada. Mesmo depois de entrar para este universo, o casal continua se
adaptando, moldando e transformando a relação conforme as experiências
vividas. A questão do ciúmes, por exemplo, é um processo trabalhado aos
poucos pelo casal. Muitos, inclusive, afirmam que transformam o ciúmes
em fonte de excitação e prazer, em um sentimento que aumenta ainda mais o
desejo pelo parceiro. Além disso, os casais estabelecem as suas regras
internas e deixam claro o que pode e o que não pode, o que será
permitido naquele encontro, etc. / (Livro pg, 199): “Todos os
informantes deste livro destacam que é crucial para um casal swinger ter
abertura para conversar sobre diversos tipos de assunto, sem medos ou
tabus. (...)
Durante as entrevistas, observei que o intenso
diálogo entre os casais swingers inclui a abordagem de experiências,
inclusive sexuais, vivenciadas com antigos parceiros. Com frequência,
enquanto um membro do casal relatava algum acontecimento do casamento
anterior, o companheiro interrompia para acrescentar alguma informação. É
notório que os informantes conhecem em detalhes a vida do parceiro.
Todos
destacam que os dois pilares fulcrais de uma relação amorosa são a
confiança e o respeito. Aparentemente isso é conquistado através do
compartilhamento de frustrações, angústias, alegrias, tristezas e
experiências negativas ou positivas.”
- Para desmistificar isso, queria que você contasse qual o perfil do público frequentador.
(Livro, pgs 87 e 88-89): “Estudos realizados até a década de 1990
indicam tratar-se de pessoas brancas, casadas, de classes média e
média-alta, com nível de instrução e salarial elevado, posições
profissionais estáveis ou em cargos de gerência . Os dados mais
divergentes dizem respeito à faixa etária, mas podemos concluir que
trata-se sobretudo de casais maduros, com mulheres acima dos 30 e homens
acima dos 35 anos. (...) Ainda assim, a comunidade swinger é mais
heterogênea atualmente do que há algumas décadas. Hoje em dia ela
abrange pessoas de classes sociais, níveis educacionais e profissionais
menos favorecidos, além de jovens na faixa dos 20 anos. Podemos dizer,
portanto, que o zelo dos swingers com sua identidade é fundamentado na
preocupação em proteger sua reputação, carreira, laços familiares e de
amizade. Quanto mais elevada a posição social de uma pessoa, maior é o
risco de sua imagem ser destruída se associada à uma prática
marginalizada.” – É preciso deixar claro que os casais swingers são
estáveis e possuem uma relação forte e estabelecida, ao contrário do que
muita gente imagina. Outra característica é que a maior parte dos
swingers tem filhos.
- Existe um baita preconceito com relação a quem frequenta clubes de swing, não?
Nitidamente. Esta é uma das razões principais para a prática ainda
acontecer às escondidas. As pessoas têm medo de serem discriminadas
pelos familiares, amigos e colegas de trabalho. A nossa sociedade ainda
não compreende esta prática. O fato de não enquadrarem-se nos padrões
sexuais e matrimoniais das sociedades ocidentais faz com que os swingers
sejam normalmente considerados desviantes.
Por que você se interessou pelo universo da troca de casais?
Desde adolesce-nte, sempre questionei determinados padrões de
comportamentos considerados tipicamente femininos ou tipicamente
masculinos. O debate acerca das desigualdades de gênero sempre fez parte
do meu universo e a área da sexualidade é uma das quais podemos
perceber com bastante ênfase as diferenças socioculturais entre homens e
mulheres. Para além disso, sempre observei com muita atenção a maneira
quase antagônica com que homens e mulheres vivenciam e criam
expectativas acerca de suas relações íntimas. Portanto, a ideia era
reunir em um único tema de estudo e pesquisa essas três temáticas:
relações de gênero, sexualidade e relações conjugais. Na minha opinião,
uma das funções da academia é expandir conhecimento e levar para o
grande público o resultado das pesquisas realizadas. É exatamente isso
que faço no meu livro. Apesar de ser oriundo de
uma investigação
de mestrado e, portanto, ter reflexões e análises profundas sobre
valores e modelos socioculturais das sociedades ocidentais, utilizo a
minha formação como jornalista para escrever de forma clara, objetiva,
leve e acessível a qualquer pessoa que tenha interesse pelas temáticas.
Além diso, não existe em Portugal ninguém das ciências sociais com o
mesmo tema de estudo. No Brasil, ainda são poucas as pesquisas. -Quanto
tempo durou a sua pesquisa, quantas pessoas entrevistou e quantos
lugares visitou?
(Livro, pgs 10 e 11): “Este livro é o resultado
de dois anos e meio de pesquisa bibliográfica sobre as temáticas
abordadas, trabalho de campo realizado em clubes de swing e entrevistas
com seis casais portugueses adeptos da prática. Ao todo, frequentei 14
festas swingers em uma sauna de Lisboa (março de 2012); em um clube no
Rio de Janeiro (setembro de 2012); e um clube na região de Lisboa
(outubro e novembro de 2012 e fevereiro 2013). As entrevistas foram
gravadas com aparelho de áudio e aconteceram entre os meses de janeiro e março de 2013. Cada uma teve duração aproximada de duas horas.
O
primeiro critério utilizado para a seleção dos casais informantes foi a
disposição dos mesmos em participar da pesquisa. É importante ter
consciência que muitas pessoas que fazem parte de grupos socialmente
marginalizados não sentem-se à vontade para abordar determinados
aspectos de suas vidas. No meu caso, encontrei poucas resistências e a
maioria dos swingers mostrou-se disposta a participar da pesquisa. Para
preservar a identidade dos informantes, os nomes utilizados neste livro
são fictícios e foram escolhidos aleatoriamente. (…)
Foi dada
preferência a casais mais velhos que estão juntos há vários anos e,
portanto, vivenciaram um longo período de conjugalidade monogâmica antes
de entrar para o swing. Por fim, foram escolhidos dois casais mais
jovens de forma a propiciar uma reflexão acerca de diferenças e
semelhanças nos valores e expectativas conjugais, sexuais e papéis de
gênero conforme diferentes gerações.”
Você era ou virou adepta? Como se sentiu ao entrar em contato com essas pessoas?
(Livro, pg 15): “O swing é uma daquelas práticas sociais que muita
gente já ouviu falar, mas não sabe definir exatamente o que é ou como
funciona. Há, ainda, aqueles que só conhecem o estilo musical dançante
que estorou nos Estados Unidos na década de 1930. Como toda prática
relativamente obscura, é rodeada de representações e mistérios. Em se
tratando de sexo, essas representações muitas vezes assumem o caráter de
preconceito e aversão, fazendo com que o swing seja facilmente
imaginado como uma orgia em que a desordem e a falta de respeito são os
personagens principais.
O pouco que sabia sobre este universo
era através de matérias de jornal, televisão e algumas cenas de filme.
Não conhecia ninguém que assumia-se como swinger e nunca tinha ido a um
local exclusivo para a prática. No meu caso, no entanto, o
desconhecimento não era sustentado por pré-julgamentos, mas pelo desejo
sincero de conhecer o swing pelo olhar dos praticantes.” – Neste
sentido, estava de coração e mente abertas. Enquanto ser humano,
jornalista e, sobretudo, antropóloga, procuro não julgar os outros antes
de compreender bem o seu universo e seus pontos de vista. A diversidade
é uma das coisas mais valiosas que temos! Durante o trabalho de campo, observei a aproximação, o
envolvimento e as performances entre os casais, mas nunca participei.
- Como, onde e quando surgiu o swing?
(Livro, pgs 71 e 72):
“É praticamente impossível afirmar com exatidão onde, quando e como o
swing teve origem. Este tipo de prática normalmente acontece
inicialmente na residência dos praticantes e somente depois chega a
espaços como bares, discotecas, etc. Existem diferentes versões sobre o
surgimento formalizado do swing.
De acordo com Robert McGinley,
presidente da NASCA International, associação que reúne clubes, eventos,
informações e serviços relacionados ao universo swinger, a prática é
associada aos key clubs (clubes da chave). Esses encontros eram
realizados por casais militares da Califórnia, Estados Unidos, durante a
década de 1950. Os maridos empilhavam as chaves do carro no centro de
um cômodo e as esposas pegavam uma chave aleatoriamente. O dono da chave
escolhida seria o parceiro sexual da mulher durante aquela noite.
Os
key clubs transformaram-se em verdadeiros escândalos ao serem
descobertos pela imprensa e serem apelidadas pelos jornalistas de wife
swapping (troca de esposas) . Posteriormente, os próprios swingers
teriam questionado o termo por considerá-lo androcêntrico e
ultrapassado, pois subentendia que as esposas não tinham escolha e que a
prática não era consensual. (…)
O jornalista e autor do livro
The lifestyle: a look at the erotic rites of swingers, Terry Gould ,
acredita que o swing teria surgido durante a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945) entre
pilotos da força aérea estado-unidense. Em uma
determinada base, a taxa de mortalidade entre os militares era muito
elevada e eles desenvolveram fortes laços de amizade e intimidade. Os
soldados então estabeleceram uma espécie de pacto que implicava que,
caso algum piloto fosse morto em combate, os colegas cuidariam de sua
esposa tanto emocional como sexualmente.”
Fechando a matéria, fica o respeito, admiração pela conceituada Jornalista, Escritora e Antropóloga Maria Silvério.
"O conhecimento amplia a vida, conhecer é viver uma realidade que a ignorância impede de esfrutar"
Diana Maia.
MARIA SILVÉRIO
É
jornalista, escritora e antropóloga. Nasceu há 31 anos em Montes Claros,
no norte de Minas Gerais (Brasil). É doutoranda em Antropologia no
Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) e mestre em Antropologia
com ênfase em Globalização, Migrações e Multiculturalismo na mesma
instituição. Estuda temas relacionados com sexualidade, gênero e
relações íntimas não-monogâmicas consensuais, como swing, casamento
aberto, poliamor e amor livre.
SINOPSE
O
livro Swing: Eu, Tu… Eles é o resultado do mestrado em Antropologia com
ênfase em Globalização, Migrações e Multiculturalismo realizado pela
autora no ISCTE-IUL. A partir do swing – também conhecido como troca de
casais – Maria Silvério levanta importantes questionamentos acerca de
valores e modelos conjugais, sexuais e de gênero predominantes nas
sociedades ocidentais. O
livro é escrito em linguagem leve e instigante de forma a ser acessível
também ao público não acadêmico.
Onde comprar:
Montes Claros: Palimontes
Sites e lojas
das livrarias -Chiado Editora (E-book e Impeso):
https://www.chiadoeditora.com/livraria/swing-eu-tueles -Cultura
(http://www.livrariacultura.com.br/p/swing-42273834#)
-Saraiva
(http://www.saraiva.com.br/swing-eu-tu-eles-7864200.html) -Martins
Fontes
(http://www.martinsfontespaulista.com.br/swing-eu-tueles-473951.aspx/p)
-Belo
Horizonte: Leitura dos Shoppings (BH, Pátio, Del Rey, Minas e
Contagem); Scriptum; Café com Letras, Quixote e Banca de Revista
Albuquerque (Savassi)
-São Paulo: Livraria Cortez e Martins
Fontes -Rio de Janeiro: Livraria Argumento (Leblon) e Instituto Kreatori
(Laranjeiras) -João Pessoa: Livraria do Luiz -Natal: Cooperativa
Cultural (Campus da UFRN)
Nenhum comentário:
Postar um comentário