Caçapava (SP) - “Para poupar sacrifícios inúteis de vidas, intimo-vos a render-vos incondicionalmente ao comando das tropas regulares do Exército Brasileiro, que estão prontas para vos atacar. Estais completamente cercados e impossibilitados de qualquer retirada. Quem vos intima é o comandante da vanguarda da divisão brasileira que vos cerca”, com esse trecho do ultimato entregue às tropas alemãs em 28 de abril de 1945 que o Tenente-Coronel André Ricardo Lessa Pereira, comandante do 6° Batalhão de Infantaria Leve, iniciou o seu discurso na solenidade de celebração pelos 78 anos da Rendição de Fornovo di Taro, no contexto da Segunda Guerra Mundial.
A formatura foi realizada no mesmo pátio de onde cerca de 3 mil brasileiros partiram para o desconhecido em julho de 1944. Iniciava ali uma epopeia que seria concluída com o retorno da maioria deles para casa no ano seguinte. Essa história de heroísmo teria como capítulo final a rendição incondicional de cerca de 15 mil alemães e italianos ao 6° Regimento de Infantaria, Unidade que compunha a Força Expedicionária Brasileira, na Batalha de Fornovo di Taro.
Neste ano, a celebração da Rendição de Fornovo contou com a presença do Comandante do Exército Brasileiro, General de Exército Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, que destacou, em seu discurso carregado de admiração, a bravura e a ousadia dos expedicionários e enalteceu a presença de dois deles no evento: tenentes Jarbas (101 anos) e Zandonadi (100 anos).
“Esses aí são os nossos verdadeiros heróis. Esses a gente tem que homenagear o tempo todo e tem que homenagear muito, porque muitos deles já não estão entre nós. A gente tem que olhar com respeito e reverência. Eles foram heróis da liberdade. Isto é um feito memorável que a nossa história não apaga e que nós não podemos esquecer nunca. Eu peço a todos, inclusive à tropa, uma salva de palmas”, exclamou o General Tomás, que caminhou até os expedicionários e deu um longo abraço.
A solenidade também contou com a presença do Comandante Militar do Sudeste, General de Exército Guido Amin Naves, além de autoridades civis e militares.
Os veteranos da Segunda Guerra Mundial foram convidados a junto dos oficiais-generais depositarem uma corbelha de flores no Monumento ao Expedicionário, que homenageia aqueles que sacrificaram o que tinham de mais sagrado para defender a pátria: a própria vida. Na sequência, o Toque de Silêncio lançou uma profunda reflexão no tamanho do sacrifício daqueles homens. Cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras e alunos-oficiais da Academia de Polícia Militar do Barro Branco fizeram a guarda do monumento.
O evento, que foi aberto à sociedade, contou com bom público, entre eles muitos ex-militares das Unidades de Caçapava (SP). Os antigos integrantes do 6° BIL tiveram a oportunidade de marchar mais uma vez no tradicional desfile de veteranos.
"É um reencontro. Eu servi aqui em 1987 e é uma oportunidade de os amigos virem e o melhor momento para se encontrar. Além de prestar um tributo aos expedicionários. Tive esse privilégio de desfilar mais uma vez com os meus amigos e é uma nostalgia”, exultou o comerciante Vagner Correa.
Ao final da solenidade, a tropa desfilou em continência ao Comandante do Exército e rompeu marcha com a Canção do Combatente Aeromóvel, levando o público a cantar junto: "(...) Filhos do Sul e do Norte/ Somos nós vanguardeiros/ Somos nós os pioneiros/ Combatente Aeromóvel brasileiro. (...)". Os militares da guarda-bandeira desfilaram fardados com o uniforme da FEB.
Após o desfecho das homenagens aos expedicionários, militares do 17° Batalhão Logístico, de Juiz de Fora (MG), desmontaram e montaram um Jeep Willys, utilizado na Segunda Guerra Mundial, em poucos minutos, arrancando aplausos do público pela agilidade e competência no trabalho do pessoal do Quadro de Material Bélico.
Mais celebrações
O Forte Ipiranga permaneceu todo o sábado de portas abertas à sociedade. Além da solenidade militar, houve uma exposição de veículos e equipamentos militares da Segunda Guerra Mundial e da atualidade, um concerto sinfônico da banda de música da Unidade, feira gastronômica com Food Trucks, apresentações culturais e, por fim, uma encenação histórica da Batalha de Fornovo di Taro.
O Museu do Regimento
Para quem queria conhecer ainda mais sobre a história do 6° BIL, mas, principalmente, da participação militar brasileira na Segunda Guerra Mundial, o Espaço Cultural do Regimento Ipiranga era a pedida certa.
Recém-reformado e ampliado, o espaço conta com documentos, fotos, armamentos, maquetes, fardamentos, bandeiras, estandartes e espólios de guerra. A cada sala que o visitante avança, um novo espaço de contemplação surge junto a uma surpresa diferente e mais impactante que a anterior. Na sala de armamentos, por exemplo, chama atenção a metralhadora alemã MG 42, apelidada pelos expedicionários brasileiros na Itália de “Lurdinha”. Um capacete brasileiro perfurado por estilhaços de uma explosão de granada também causa impacto e provoca o visitante a refletir sobre os heróis que tombaram na Itália.
O último espaço tratou de contar histórias. Afinal, de nada valeria tanto material sem algo que “falasse” realmente com o público. Ali, relatos de missões e patrulhas estão envoltas de ações extraordinárias, como a do Cabo Marcílio Luiz Pinto, do 6° RI, que fez recuar, nos arredores de Monte Torre de Nerorte, uma patrulha inimiga que tentava libertar prisioneiros.
Fonte: 6° Batalhão de Infantaria Leve
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