quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Quer liderar? Seja honesto


A honestidade é um valor derivado da honra e estreitamente relacionado com a verdade.”
                                                                                                       
Por General de Divisão  R1 Joarez Alves Pereira Junior
É o que aponta uma pesquisa realizada com quatro diferentes grupos, dois de civis e dois de militares.
A figura do líder é primordial no campo militar. A guerra é uma atividade coletiva, não se combate sozinho, mas integrando um grupo, um pelotão, um batalhão. E no campo de batalha um bom chefe, gerente ou administrador não basta, é preciso um líder capaz de conduzir e guiar as ações. Daí a necessidade das escolas militares formarem líderes e não apenas bons chefes.

Formado na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) em 1982. Cursou a Escola de Comando e Estado-Maior (ECEME) em 1997/98. No exterior realizou o Curso Básico de Inteligência, no Forte Huachuca; o Curso da Escola de Guerra, no War College; e o Curso de Política e Estratégia da National Defense University; todos nos Estados Unidos da América. Foi instrutor da AMAN e da ECEME e comandou a Escola de Administração do Exército e Colégio Militar de Salvador. Exerceu a função de Adjunto do Adido do Exército junto à Embaixada do Brasil em Washington. Comandou a 3ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, em Bagé-RS e a 6ª Região Militar, em Salvador-BA. Foi Subchefe do Estado-Maior do Exército para Assuntos Internacionais. Exerceu, como última função no serviço ativo, a Vice Chefia do Departamento de Educação e Cultura do Exército. Atualmente é o Coordenador Executivo do Grupo de Trabalho que irá realizar o planejamento para a implantação de uma Nova Escola de Formação e Graduação de Sargentos de Carreira do Exército Brasileiro.
A importância do líder, no entanto, extrapola a atividade militar. Warren Bennis afirmou que um cientista da Universidade de Michigan, ao listar as três principais ameaças para a sociedade americana, apontou, dentre elas, a qualidade da liderança das instituições que pudessem levar à destruição da sociedade.
Reconhecidamente, a figura do líder é fundamental na condução das empresas, dos negócios e, particularmente, para os dirigentes políticos e chefes de instituições responsáveis, em nome do povo, pela condução dos desígnios de uma nação.
Ao persistir no estudo do tema liderança, ao qual fui exposto durante meus 44 anos de serviço ativo, realizei a pesquisa já mencionada com dois grupos de militares do Exército, oficiais e praças, e dois grupos de civis, empresários e acadêmicos. Para tanto, foram definidos 38 atributos/valores/atitudes (AVA) para serem julgados sobre o grau de importância dos mesmos para o líder. Os pesquisados deveriam opinar se cada um deles era imprescindível, importante, desejável ou dispensável.
Vários aspectos interessantes foram revelados durante a análise dos resultados e o primeiro deles destaco neste artigo: dos 10 atributos mais votados como imprescindíveis por cada grupo, somente três apareceram nas quatro listagens, quais sejam, honestidade, responsabilidade e integridade. Mais significativo ainda é que em três dos quatro grupos, o AVA considerado como o mais imprescindível foi a honestidade.
A honestidade é o valor de quem apresenta probidade, honradez, que não se deixa corromper. Por sua vez, a responsabilidade diz respeito à obrigação de responder pelas ações próprias ou de outrem que esteja realizando atividade conforme sua determinação. A integridade está associada à conduta reta, à pessoa ética; está ligada à inteireza, a ser pleno, um caráter sem falhas. Portanto, responsabilidade e integridade estão intimamente associados à honestidade.
É estimulante ver que diferentes grupos têm percepção próxima da retomada de um valor que parecia enfraquecido na nossa sociedade. Pareceu mesmo que tínhamos nos tornados viciados em processos corruptivos e que não percebíamos o mal que eles poderiam trazer à coletividade como um todo e a cada um de nós em particular.
Chegou a parecer que não tínhamos mais força para oferecer resistência, que a sapiência de Rui Barbosa ao afirmar que “de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto” era incontestável e irreversível verdade. Parecíamos ter vergonha de ser honestos.
Alegra ver o resultado de uma pesquisa que aponta nova tendência. Quem sabe essa pequena semente germine, a despeito do mal trato do solo ao seu redor. Quem sabe Shakespeare nos inspire novamente para acreditar que “nenhuma herança é tão rica quanto à honestidade”.

* Artigo publicado originalmente na edição impressa do Correio Brasiliense de 31 de julho de 2020.