Por Coronel Rodolfo Tristão Pina
A AMAN, instituição de ensino superior
responsável pela formação dos oficiais combatentes de carreira do
Exército Brasileiro, muito embora pouco conhecida pelo público
brasileiro, será palco de documentário nacional com o título “Irmãos por
escolha”.
A Academia é reconhecida por ser um
estabelecimento de ensino secular do País, originado da Academia Real
Militar de 1810. Suas instalações são consideradas uma obra de arte
imponente, desde 1944, às margens da rodovia Presidente Dutra, na cidade
de Resende-RJ.
A saudosa “alma mater”, como é conhecida
por aqueles que por ela passam, faz parte do acervo histórico da Nação.
Considerada um patrimônio nacional, nesses mais de dois séculos de
existência, foi submetida a várias reformulações estruturais e
curriculares, sempre buscando o equilíbrio entre as mudanças em curso na
sociedade brasileira e a manutenção das tradições e valores éticos e
morais caros aos militares da Força Terrestre.
Em 9 de fevereiro do corrente ano, 416
(quatrocentos e dezesseis) jovens cruzaram o portão de entrada dos novos
cadetes, um a um, numa cerimônia que ocorre há 75 anos, em Resende,
como parte de um ritual. Aquele momento, repleto de simbolismo, além de
exaltar o esforço e a conquista individual de cada cadete, mostra que a
formação militar dentro daqueles muros é solene e cerimoniosa – digna
dos que terão que fazer do seu ofício, seu ideal de vida.
Possuidores de condições socioeconômicas
distintas, aliadas às diferenças regionais marcantes, os cadetes e as
cadetes, durante a realização do curso, veem cair por terra qualquer
resquício de estratificação social ainda existente, pois todos são
colocados diante das mesmas condições. A diversidade nunca foi problema
na AMAN; pelo contrário, ela fortalece o senso de alteridade e acelera o
surgimento do espírito de corpo, fundamental nos cursos de formação
militares e para o prosseguimento da carreira.
A AMAN vai muito além de uma escola de
formação profissional. É uma instituição de civismo, formadora de
opiniões, de lideranças, de civilidade e de tradições e valores, além de
desenvolver talentos e habilidades psicomotoras; enfim, é uma escola de
vida que proporciona uma experiência de crescimento pessoal inconteste,
assim como são todos os outros Estabelecimentos do Sistema de Ensino do
Exército Brasileiro.
Uma característica marcante da Academia é
que ali a competição entre cadetes é saudável e incrivelmente
colaborativa. Lá se aprende, desde cedo, que “quem sai junto, chega
junto” e que “ninguém fica para trás”. Esses dogmas castrenses atuam na
contramão da disputa gananciosa, da rivalidade destrutiva e do
individualismo. Para ser bem sucedido no curso, é preciso interagir e
buscar sinergia, que é alcançada com trabalhos em equipes, doação e
participação. Cada cadete enfrentará limitações e dificuldades que serão
superadas com a força individual e o apoio do grupo.
Os resultados auferidos a partir desse
espírito coletivo vão, aos poucos, forjando uma identidade única e
construindo o que será a “personalidade”, a marca da turma, durante e
após a formação. Cada aspirante formado leva consigo um pouco dessa
espécie de natureza da sua turma, que o acompanhará durante toda a
carreira militar.
O mais curioso é que essa “família” que
se forma a partir daqueles bancos escolares nunca mais se desfaz.
Exemplo disso são as tradicionais reuniões de turma de 10, 20, 30, 40,
50 anos de conclusão do curso, eventos grandiosos, carregados de
saudosismo e que renovam o espírito de corpo e marcam os ciclos de
maturidade profissional atingidos pelo grupo na Força.
A Academia é um mundo à parte, mas não
está afastada dos movimentos e das tendências que marcam a conjuntura e
modernidade. O cadete tem à sua disposição práticas de orientação
pedagógica, psicológica e religiosa e atividades culturais, artísticas,
esportivas e de lazer. O objetivo é fortalecer a participação social e
torná-lo um representante preparado para contribuir no desenvolvimento
da estrutura familiar e da comunidade a qual pertence.
Não se pode esquecer que a AMAN é uma
das escolas inseridas no campo das Ciências Militares. Dessa forma,
prepara para a guerra com formação peculiar presente nas escolas do
Ministério da Defesa, da Marinha, do Exército e da Força Aérea
Brasileira.
Acompanhando as tendências dos conflitos
modernos em cenários de emprego em múltiplos domínios, os quais o fator
humano se destaca como a variável de maior complexidade, a formação na
AMAN, ao contrário do que muitos pensam, precisa ser plural, abrangente,
multidisciplinar e crítica. O futuro chefe militar, na AMAN, aprende a
raciocinar sob pressão, a ser flexível e resiliente e a durar na ação
porque, na guerra, os mesmos problemas exigirão distintas soluções.
Por fim, pode-se afirmar que a AMAN tem
um compromisso com o País de, a cada ano, entregar à sociedade
brasileira um grupo de jovens capacitados no campo cognitivo,
desenvolvidos no campo afetivo e aperfeiçoados no campo psicomotor. Cada
cadete é preparado para desempenhar seu papel como profissional e
cidadão e leva, na sua espada, a representação daquilo que dá sentido
nobre à carreira militar: a Pátria e o Dever.