Agência Verde Oliva
Maceió (AL) – Há
três décadas, o 59º Batalhão de Infantaria Motorizado (59º BI Mtz) atua
em Alagoas no combate à seca e garante água para o povo sertanejo. A
missão é feita por intermédio da Operação Pipa. Essa tarefa iniciou por
intermédio da publicação do decreto estadual e é supervisionada pelo
Ministério da Integração Nacional. O programa visa ajudar muitas
famílias sertanejas a sobreviverem ao clima quente e ao ar seco, que
atingem a toda a região Nordeste. Nessa batalha são convocados cerca de
50 militares do Exército e 140 pipeiros, que, por meio de uma estratégia
articulada, percorrem um território que compreende 38 municípios
alagoanos, sob sol forte e escaldante.
Agricultora pagava R$ 250,00 para matar a sede da família
“A água é uma benção de Deus. E esses
soldados do Exército não deixam que a gente morra de sede e ajuda a
fazer a comida para meus filhos. Se não fosse essa ajuda, não sei o que
seria da minha vida e da dos meus filhos sem água”, disse Marlene Pimentel Correa, de 53 anos, que trabalha na agricultura. Marlene Pimentel mora
com o marido, cinco filhos e um neto, uma criança de quatro anos. Todos
sobrevivem do que colhem da plantação de milho, feijão, abóbora e
melancia, que possuem no quintal de sua casa.
Antes de ser beneficiada com o abastecimento ofertado pela Operação Pipa, Marlene Pimentel
tinha que fazer economia e se apertar financeiramente para desembolsar
R$ 250,00 para comprar 14 mil litros de água. “Com a Operação Pipa, eu
já uso o dinheiro para comprar uma comidinha a mais pra minha família”,
disse a agricultora, que usa um carro de boi para ir até a cisterna mais
próxima de sua casa, encher os recipientes e levá-los à sua família.
São distribuídos gratuitamente 20 litros de água por pessoa ao dia
Com a Operação Pipa, as famílias que sobrevivem à seca deixaram de encarar uma via crúcis para obter água. Assim como Marlene Pimentel,
outras famílias sertanejas deixaram de comprar o líquido para beber,
fazer a comida e utilizar para higiene. O chefe do escritório
responsável pelo programa no Estado, Capitão Adelino Conceição,
disse que mais 120 mil pessoas são beneficiadas com a ação. “De acordo
com o planejamento, a previsão da operação pipa são vinte litros por
pessoa ao dia. E isso pode incluir uma criança ou uma pessoa com mais de
100 anos. Para todos, a quantidade é a mesma”, disse o Capitão Adelino.
Além de Alagoas, outros sete estados do
Nordeste – que é a região do Brasil mais beneficiada com o fornecimento
da água – recebem recursos federais para o transcurso da operação.
Municípios do norte de Minas Gerais também estão na lista de
beneficiários.
Exército monta estratégia de guerrilha para matar a sede do sertanejo
O Exército Brasileiro faz um
levantamento da população e de possíveis locais para instalar uma
cisterna. O trajeto é levado em consideração para a conclusão do cálculo
que irá definir quais meios serão adotados para levar água ao povo
sertanejo, esse cálculo conclui quanto vai ser pago ao pipeiro
contratado. Dessa forma, o 59º BI Mtz trabalha
diretamente com as Coordenadorias Municipal de Defesa Civil (COMDEC) de
cada cidade, que irão informar quais comunidades serão atendidas.
Quando a situação é extrema e existe a
comprovação da falta de chuva no local, a cidade é classificada como
semiárido nordestino. Nessa situação, quem define se o lugar vai receber
água é a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
(SUDENE). Anualmente ela delimita o semiárido, analisando se aumentou ou
diminuiu a região em virtudes dos ciclos de seca. Os municípios
atingidos que fazem parte do agreste e estão próximo aos locais de
grande seca também entram no Decreto que é enviado para o Ministério da
Integração avaliar.
Quando as cidades são
homologadas, analisa-se como será aplicado o recurso. O Ministério tem
três formas de encaminhar a água: via Exército, via Defesa Civil do
estado e por meio da Defesa Civil do município.
Pelas Forças Armadas, o Ministério da
Integração faz contato com o Comando de Operações Terrestres para fazer
todo o controle. O Comando Militar do Nordeste (CMNE) recebe as
recomendações e repassa para o 59º BI Mtz, que, por sua vez, faz o
reconhecimento e verifica quais cidades receberão a água.
A Operação Pipa surge por intermédio do
Decreto governamental e municipal de calamidade, informando a situação e
a impossibilidade de abastecimento de água para a população, seja por
meio de açude ou de água encanada.
Pipeiros são convocados para a ação
O pipeiro José Ferreira,
de 51 anos, sai todos os dias às 4h da manhã do município de Traipu
para pegar água na cidade de Limoeiro de Anadia e levar às comunidades
de Girau do Ponciano. José Ferreira e outros 149
motoristas se disponibilizaram para atuar junto como os militares do
Exército no combate à seca. Todos esses caminhoneiros envolvidos na
missão têm que se cadastrar para obter o certificado que o deixa apto a
levar água para os sertanejos. As rotas são definidas e é feito um
sorteio para distribuir as comunidades para onde cada um se deslocará.
Os contratos são de três em três meses
e, no final de cada período, é feito um novo sorteio. O comandante do
59º Batalhão de Infantaria Motorizado explica o motivo do contrato ser
tão curto. “A região do novo semiárido é pobre, o recurso que os
pipeiros ganham serve como distribuição de renda, por isso tem que
atingir o maior número de pessoas possíveis, por isso é preciso dar
oportunidade aos outros pipeiros que ficaram de fora do sorteio, esses
têm prioridade no próximo contrato, o objetivo é aumentar o ciclo
durante o ano”, disse o Coronel Nilton Rodrigues.
Os motoristas são obrigados a manter o
caminhão em perfeito estado. Semanalmente o veículo é inspecionado por
uma equipe do Exército. Muitas comunidades são de difícil acesso e
alguns imprevistos podem acontecer. “O terreno ruim danifica o caminhão e
aumenta o consumo de pneu. A cada seis meses, tenho que comprar outros
novos”, concluiu José Ferreira.
O caminhão passa por toda parte de saúde
pública, tem que constar o certificado de controle veicular do Detran e
alvará da Vigilância Sanitária autorizando o transporte de água
potável. Com todos os documentos em situação válida, o carro pipa está
apto para participar da Operação.
Toda a guerra contra a seca é monitorada via satélite para evitar fraudes
Todos os caminhões que prestam serviço para a Operação Pipa são monitorados via satélite. Cada veículo leva onboard um
rastreador do Sistema de Monitoramento da Logística de Entrega de Água
por Carros-Pipa, mais conhecido como GPIPA. O equipamento funciona por
sistema GPS, para verificar as rotas dos pipeiros, e GSM, enviando as
informações com precisão da localização.
Há cerca de cinco anos, o Exército
utiliza o GPIPA com o objetivo é acabar com os fraudes que aconteciam
antes. Ao todo seis militares trabalham diariamente acompanhando as
rotas dos pipeiros de Alagoas. O responsável pela equipe de
monitoramento é o Segundo-Sargento José Ferreira Júnior.
“A cada três meses são sorteados os lotes. Os pipeiros contemplados só
começarão a trabalhar após levarem os carros para vistoria e, conforme
aprovação, é instalado o rastreador”, disse o Sgt Ferreira Júnior. A instalação pode ser feita em três pontos: Paulo Afonso (BA), Garanhuns (PE) e Olho D´água das Flores (AL).
O aparelho vem integrado com um leitor
de cartão, que fica com o pipeiro e o morador responsável em receber a
água da comunidade. Quando o motorista enche o veículo com água, ele
passa o cartão, comprovando que o caminhão está abastecido.
O equipamento registra a rota, certificando que não houve nenhum desvio
ou parada até o abastecimento da cisterna. Ao chegar no local, o
responsável pela cisterna passa seu cartão e, logo em seguida, o
condutor do caminhão passa o cartão finalizado o trajeto.
Pão de Açúcar reforça serviço
Para o Prefeito da cidade de Pão de Açúcar, Flávio Almeida da Silva Júnior,
as adutoras e os polos de abastecimentos são soluções para combater a
seca no município. “Enquanto o município trabalha de mãos dadas com o
Exército, no sentido de levar água para o povo sertanejo, além dos
caminhões da Operação Pipa, a cidade tem mais quatro caminhões locados
para auxiliar no transporte”, disse Flávio Almeida.
Até o final do primeiro semestre de 2019, Flávio Almeida
promete entregar a obra que vai beneficiar cerca de cinco mil pessoas
com água encanada do Assentamento Conceição até o Assentamento Alemar.
“São soluções permanentes que vão melhorar a vida das pessoas, dando
saúde, porque água é vida”, disse.